Diabetes: uma doença silenciosa (V.5, N.11 P.7, 2022)

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Autor: Paulo de Avila Junior 

Anualmente, em 14 de novembro é comemorado o Dia Mundial do Diabetes, data de aniversário do médico canadense Frederick Grant Banting (1891-1941), que juntamente com o médico escocês John James Richard Macleod (1876-1935) ganharam o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1923 pela descoberta da insulina. Essa data foi criada em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes junto à Organização Mundial de Saúde almejando-se reforçar a conscientização a respeito da doença. Estima-se que atualmente no Brasil cerca de 17 milhões de pessoas vivam com diabetes [QUEIROZ, 2022; FIORAVANTI, 2021]. Neste ano, comemora-se também 100 anos da aplicação da primeira injeção de insulina bem-sucedida, ocorrida em 23/01/1922(*1).

O primeiro caso de diabetes foi descrito no Egito em 1500 a.C., ou seja, há cerca de 3500 anos atrás e o nome diabetes foi utilizado por volta de 250 a.C. por Apolonio e Memphis, referindo-se aos sintomas de sede intensa e eliminação de grande quantidade de urina (MARCELINO e CARVALHO, 2005). O médico Aretaeus criou o termo diabetes mellitus para fazer referência ao gosto adocicado da urina desses pacientes, na época percebido pelo paladar. Em 1776, a partir dos avanços científicos e tecnológicos, foi possível o desenvolvimento de um método capaz de determinar a quantidade de açúcar na urina, pelo médico inglês Matthew Dobson e, com isso, provar da urina deixou de ser necessário (VARELLA, 2020).

O diabetes é uma doença complexa que se apresentar de formas diferentes (descritas a seguir) e tem em comum elevada quantidade de açúcar no sangue, acima da taxa normal (hiperglicemia), provocada pela falta ou incapacidade do organismo utilizar adequadamente do hormônio insulina. Daí, demandando atenção dos diabéticos quanto à alimentação. De acordo com o Ministério da Saúde (*2), o diabetes pode ser dividido em:

Tipo 1

“O próprio sistema imunológico da pessoa ataca e destrói as células produtoras de insulina. Ocorre em cerca de 5 a 10% das pessoas com diabetes, sendo mais frequente em jovens e crianças. Por esse motivo, o diagnóstico costuma ser feito na infância e adolescência”.

Tipo 2

“Resulta da resistência à insulina. Ou seja, o corpo não produz uma quantidade suficiente do hormônio ou existe uma incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Esse tipo ocorre em cerca de 90% das pessoas com diabetes, sendo mais comum em adultos ou em pessoas acima do peso, sedentárias, sem hábitos saudáveis de alimentação”.

Diabetes Gestacional

“Decorrente das mudanças hormonais, a ação da insulina pode ser reduzida durante a gestação. O pâncreas, consequentemente, aumenta a produção de insulina para compensar. Essa é uma condição que pode ou não persistir após o parto”.

Pré-diabetes

“Condição caracterizada pelo nível de açúcar no sangue acima do normal, mas não o suficiente para ser diagnosticado como diabetes. Serve de alerta, pois indica um risco grande da doença se desenvolver.”

Foi identificado no final da década de 1980 que adultos que apresentavam obesidade, níveis sanguíneos acima da taxa normal de açúcar (hiperglicemia) e de gordura (triacilgliceróis e LDL-colesterol, e reduzidos níveis de HDL-colesterol) e hipertensão arterial tinham risco cinco vezes maior em desenvolver o diabetes tipo 2. Essa condição foi denominada síndrome metabólica e a sua instalação no organismo pode levar à resistência à insulina (MARZOCCO e TORRES, 2015). O consumo frequente de bebidas açucaradas também pode aumentar o risco de diabetes tipo 2, pois o açúcar é rapidamente absorvido, provocando grande produção do hormônio insulina pelo pâncreas. Vale ressaltar que o consumo de alimentos ricos em açúcar, gordura e sal aumentam a sensação de prazer pelo organismo (SAWAYA e FILGUEIRAS, 2013). Aliás, pode-se perceber o estímulo ao consumo de açúcar pela sociedade como fruto de inúmeras experiências e memórias afetivas ao longo da vida, por exemplo, nas festas de aniversário ou com as sobremesas servidas após as refeições. Nesse sentido, o diabetes tipo 2, diferentemente do diabetes tipo 1, pode refletir hábitos alimentares e estilo de vida, geralmente com sobrepeso. A atenção com os hábitos alimentares, realização de atividade física e estilo de vida não são exclusivas de quem tem diabetes. A animação “Convivendo com o Diabetes – Pfizer”(*3)  pode complementar a compreensão dessas informações.

Nesse contexto, percebe-se que hábitos alimentares cuja ingestão energética ultrapasse os limites diários recomendados, nem sempre acompanhada pela ideal ingestão de macronutrientes e micronutrientes, podem resultar em diversos fatores de risco à saúde, como a desnutrição e a obesidade. No Brasil, a porcentagem da população com sobrepeso e obesidade tem aumentado em todas as faixas etárias, em ambos os sexos e em todos os níveis de renda (DIAS et al, 2017). É possível perceber na tabela 1 que o alcance às necessidades energéticas diárias (kcal) não envolveria obrigatoriamente a ingestão das quantidades recomendadas dos macronutrinetes (carboidrato, proteína e gordura) para cada organismo, com necessidades alimentares específicas em função de diferentes fatores, como intolerâncias, diabetes e atividades física e profissionais. Nesse sentido, profissionais da saúde podem nos orientar quanto à alimentação, por exemplo, com o uso do Guia(*4) alimentar para a população brasileira, 2014, publicação do Ministério da Saúde.

 

Tabela 1(*5): Composição de alimentos por 100g de parte comestível.

Alimento Kcal Carboidratos

(g)

Lipídeos

(g)

Proteínas

(g)

Fibra alimentar

(g)

Carne bovina, patinho sem gordura grelhado 219 0 7,3 35,9
Coxa de frango cozida e sem pele 167 0 5,8 26,9
Ovo de galinha cozido, inteiro 146 0,6 9,5 13,3
Ovo de galinha, clara cozida 59 0 0,1 13,4
Banana nanica 92 23,8 0,1 1,4 1,9
Laranja pera 37 8,9 0,1 1 0,8
Maça argentina com casca 63 16,6 0,2 0,2 2
Biscoito recheado com chocolate 472 70,5 19,6 6,4 3
Refrigerante tipo cola 34 8,7 0 0

 

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, metade das pessoas que tem diabetes não sabem que tem a doença. Com isso, ressaltam a importância em procurar os serviços de saúde e fazer os exames regulares e atenção aos sintomas(*6)

 

Com isso, procure os serviços de saúde, faça os exames regulares solicitados e siga as orientações dos profissionais da saúde.

Notas:

(*1) Sociedade Brasileira de Diabetes. Novembro Diabetes Azul. Materiais para download: pôster da campanha “100 anos da insulina”. Disponível em: https://novembrodiabetesazul.com.br/download/

(*2) Brasil. Ministério da Saúde. Dia Mundial do Diabetes: entenda tudo sobre a doença e saiba como se proteger. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-ter-peso-saudavel/noticias/2021/dia-mundial-do-diabetes-entenda-tudo-sobre-a-doenca-e-saiba-como-se-proteger

(*3) “Convivendo com o Diabetes – Pfizer”. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Ot3b1aM7ZCU (acesso em 07/11/22).

(*4) Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf (acesso em 07/11/22)].

(*5)Adaptada de: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, 2011. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2017/03/taco_4_edicao_ampliada_e_revisada.pdf (acesso em 07/11/22).

(*6) Sociedade Brasileira de Diabetes. Novembro Diabetes Azul. Materiais para download: folder novembro diabetes azul – atrás. Disponível em: https://novembrodiabetesazul.com.br/download

 

Referências

DIAS, P.C.; HENRIQUES, P.; ANJOS, L.A.; BURLANDY, L. Obesidade e políticas públicas: concepções e estratégias adotadas pelo governo brasileiro. Cadernos de Saúde Pública, n.33, v.7, p.1-12, 2017.

MARZOCCO, A.; E TORRES, B.B. Regulação integrada do metabolismo in Bioquímica Básica, p.311-321, 4ª ed., Ed. Guanabara Koogan, 2015.

FIORAVANTI, C. A descoberta da insulina. Revista Pesquisa FAPESP, ed.302, p.90-93, abril 2021.

MARCELINO, D.B.; CARVALHO, M.D.B. Reflexões sobre o diabetes tipo 1 e sua relação com o emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.18, n.1, p.72-77, 2005.

VARELLA, D. A história do diabetes. 2020. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-cronicas/diabetes/a-historia-do-diabetes-artigo/ (acesso em 07/11/22).

QUEIROZ, L. Ministério da Saúde. Dia Mundial do Diabetes comemora os 100 anos da descoberta da insulina. Disponível em:

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021-1/novembro/dia-mundial-do-diabetes-comemora-os-100-anos-da-descoberta-da-insulina (acesso em 07/11/22).

SAWAYA, A.L.; FILGUEIRAS, A. “Abra a felicidade”? Implicações para o vício alimentar. Estudos Avançados [online], v.27, n.78, 2013.

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