2021, o Ano Internacional das Cavernas e do Carste: o que temos a comemorar? (V.4, N.7, P.3, 2021)
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Você já entrou numa caverna ou teve a curiosidade de entrar em uma? Pois bem, é sobre este delicado ambiente de cavidades naturais que a espeleologia estuda. A palavra espeleologia vem do latim (spelaeum – cavidade; logia – estudo). Dessa maneira, quem estuda estes ambientes são chamados de espeleólogos.
Por ser esta uma ciência multidisciplinar encontramos espeleólogos nas mais variadas áreas: engenharia, biologia, geologia, química, matemática, odontologia, entre outros. No entanto, é preciso destacar que não há um pré-requisito formal para ser um espeleólogo, apenas interesse e vontade de conhecer este fantástico mundo subterrâneo.
Uma caverna apresenta uma fabulosa diversidade de formações rochosas espetaculares que levaram centenas ou milhares de anos para se formarem. As mais conhecidas (e fotografadas) são as estalactites e as estalagmites (Foto 1), mas também temos outas formações como colunas, cortinas, flores de cristais, pérolas, escorrimentos, entre outras.
Além da beleza cênica, as cavernas podem abrigar uma grande variedade de seres vivos, tais como: morcegos, peixes, aranhas, grilos, centopeias e até seres microscópicos, e muitas destas espécies são endêmicas (Foto 2).
O ambiente cavernícola desperta o imaginário da humanidade há muito tempo. Desde a pré-história, as cavernas servem de abrigo e de santuário ritualístico onde o sagrado e o profano caminham lado a lado (Foto 3). O turismo em cavernas é geralmente, a maneira de se ter o primeiro contato com a espeleologia, este é sem dúvida um recurso importante para divulgação e preservação do patrimônio espeleológico, no entanto, há muito o que ser investigado em uma caverna, e elas abrigam respostas sobre o passado e sobre o futuro, de forma que a espeleologia é um vasto campo para pesquisas científicas.
A espeleologia brasileira teve os primeiros estudos acadêmicos publicados nesta área por volta da década de 1970, e foram focados principalmente na compreensão da gênese das cavernas, sua geologia, geomorfologia e hidrogeologia, porém, a biologia subterrânea teve um grande avanço nas últimas décadas, principalmente devido à existência de seres vivos presentes apenas nesse tipo de ambiente e a necessidade de estudos específicos para licenciamento ambiental. Atualmente temos também, estudos ligados ao turismo, química, climatologia, matemática e até arquitetura, ou seja, as possibilidades de se desenvolver um estudo de seu interesse nesse ecossistema são imensas.
É possível encontrar cavernas em praticamente todos os estados brasileiros, a mais próxima da UFABC fica em Mauá, a Gruta Santa Luzia, surgência do rio Tamanduateí. Em Paranapiacaba (Santo André) também há cavernas, porém, devido as características da região, não são turísticas. As cavernas de grande porte e turísticas mais próximas da região metropolitana de São Paulo estão localizadas no Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, em Unidades de Conservação, como o Parque Estatual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), Parque Estadual Caverna do Diabo (PECD) e Parque Estadual Intervales (PEI).
As cavernas brasileiras são ecossistemas sob forte pressão e especulação, mas ainda estão conservadas porque estão protegidas então por rígidas leis federais, entretanto, uma mudança nesta legislação por parte do Ministério das Minas e Energias pode causar impactos irreversíveis, e pode acontecer justamente em 2021, o Ano Internacional das Cavernas e do Carste.
Setores importantes da economia, como agronegócio e mineração, têm travado conflitos ambientais que comprometem a biodiversidade e os ambientes cársticos. A União Internacional de Espeleologia (UIS) lembra que é necessário explorar, compreender e proteger esses ambientes e propõe, ainda, uma ampla divulgação destes importantes fornecedores de serviços ecossistêmicos. Com cerca de 310 mil cavernas estimadas em território nacional, a proteção desses ambientes no Brasil sempre foi e será uma tarefa desafiadora.
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