2021, o Ano Internacional das Cavernas e do Carste: o que temos a comemorar? (V.4, N.7, P.3, 2021)

Tempo estimado de leitura: 6 minute(s)

Jovenil Ferreira de Souza, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (PPG-CTA) da UFABC e membro do Grupo de Estudos Ambientais da Serra do Mar (GESMAR); jovenil.souza@ufabc.edu.br

 

Rosangela Rodrigues de Oliveira, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ensino e História das Ciências e da Matemática (PEHCM) da UFABC  e membro do Grupo de Estudos Ambientais da Serra do Mar (GESMAR); rosangela.oliveira@ufabc.edu.br

 

Angela  Terumi Fushita, professora da UFABC nos cursos de Bacharelado em Planejamento Territorial e Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental; angela.fushita@ufabc.edu.br

 

Considerada como maior pórtico do mundo, com seus 215 metros de altura, a caverna Casa de Pedra (PETAR/SP) em meio a Mata Atlântica. Um exemplo da representatividade espeleológica brasileira. Foto: Clayton Lino

Você já entrou numa caverna ou teve a curiosidade de entrar em uma? Pois bem, é sobre este delicado ambiente de cavidades naturais que a espeleologia estuda. A palavra espeleologia vem do latim (spelaeum – cavidade; logia – estudo). Dessa maneira, quem estuda estes ambientes são chamados de espeleólogos.

 

Setor turístico da Caverna do Diabo, Vale do Ribeira, São Paulo/SP. Imagem disponível em: https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br

 

Por ser esta uma ciência multidisciplinar encontramos espeleólogos nas mais variadas áreas: engenharia, biologia, geologia, química, matemática, odontologia, entre outros. No entanto, é preciso destacar que não há um pré-requisito formal para ser um espeleólogo, apenas interesse e vontade de conhecer este fantástico mundo subterrâneo.

 

Uma caverna apresenta uma fabulosa diversidade de formações rochosas espetaculares que levaram centenas ou milhares de anos para se formarem. As mais conhecidas (e fotografadas) são as estalactites e as estalagmites (Foto 1), mas também temos outas formações como colunas, cortinas, flores de cristais, pérolas, escorrimentos, entre outras.

 

Estalactite, recristalização dos carbonatos de cálcio dissolvido em água, no teto da caverna; Estalagmite, recristalização do gotejamento rico em carbonatos de cálcio, no piso da caverna. Imagem disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/equilibrio-quimico-nas-cavernas.htm

 

Além da beleza cênica, as cavernas podem abrigar uma grande variedade de seres vivos, tais como: morcegos, peixes, aranhas, grilos, centopeias e até seres microscópicos, e muitas destas espécies são endêmicas (Foto 2).

 

Foto 2: Aranha troglóbia de caverna do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais; Tisentnops mineiro (Brescovit & Sánchez-Ruiz, 2016). Foto: Robson Zampaulo

 

O ambiente cavernícola desperta o imaginário da humanidade há muito tempo. Desde a pré-história, as cavernas servem de abrigo e de santuário ritualístico onde o sagrado e o profano caminham lado a lado (Foto 3). O turismo em cavernas é geralmente, a maneira de se ter o primeiro contato com a espeleologia, este é sem dúvida um recurso importante para divulgação e preservação do patrimônio espeleológico, no entanto, há muito o que ser investigado em uma caverna, e elas abrigam respostas sobre o passado e sobre o futuro, de forma que a espeleologia é um vasto campo para pesquisas científicas.

 

Foto 3: Pinturas rupestres na Gruta do Rezar, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG); Foto: Rodrigo Lopes Ferreira

 

A espeleologia brasileira teve os primeiros estudos acadêmicos publicados nesta área por volta da década de 1970, e foram focados principalmente na compreensão da gênese das cavernas, sua geologia, geomorfologia e hidrogeologia, porém, a biologia subterrânea teve um grande avanço nas últimas décadas, principalmente devido à existência de seres vivos presentes apenas nesse tipo de ambiente e a necessidade de estudos específicos para licenciamento ambiental. Atualmente temos também, estudos ligados ao turismo, química, climatologia, matemática e até arquitetura, ou seja, as possibilidades de se desenvolver um estudo de seu interesse nesse ecossistema são imensas.

 

É possível encontrar cavernas em praticamente todos os estados brasileiros, a mais próxima da UFABC fica em Mauá, a Gruta Santa Luzia, surgência do rio Tamanduateí. Em Paranapiacaba (Santo André) também há cavernas, porém, devido as características da região, não são turísticas. As cavernas de grande porte e turísticas mais próximas da região metropolitana de São Paulo estão localizadas no Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, em Unidades de Conservação, como o Parque Estatual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), Parque Estadual Caverna do Diabo (PECD) e Parque Estadual Intervales (PEI).

 

Turismo em caverna quartzítica, Luminárias/MG – Foto: Jovenil Souza

 

As cavernas brasileiras são ecossistemas sob forte pressão e especulação, mas ainda estão conservadas porque estão protegidas então por rígidas leis federais, entretanto, uma mudança nesta legislação por parte do Ministério das Minas e Energias pode causar impactos irreversíveis, e pode acontecer justamente em 2021, o Ano Internacional das Cavernas e do Carste.

 

Setores importantes da economia, como agronegócio e mineração, têm travado conflitos ambientais que comprometem a biodiversidade e os ambientes cársticos. A União Internacional de Espeleologia (UIS) lembra que é necessário explorar, compreender e proteger esses ambientes e propõe, ainda, uma ampla divulgação destes importantes fornecedores de serviços ecossistêmicos. Com cerca de 310 mil cavernas estimadas em território nacional, a proteção desses ambientes no Brasil sempre foi e será uma tarefa desafiadora.

 

Para explorar mais:

https://see.ufop.br/espeleologia

http://www.cavernas.org.br

Related Post

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Twitter
Blog UFABC Divulga Ciência