A Ergonomia e a sua importância (V.4, N.5, P.8, 2021)

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Divulgador da Ciência:

Jabra Haber, Professor da UFABC [Lattes]

No Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO adota a seguinte definição para ergonomia:

 

Entende-se por ergonomia o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas” (IIDA, 2005).

 

No âmbito internacional, a International Ergonomics Association – IEA aprovou uma definição, em 2000, conceituando a ergonomia e as  suas especializações:

 

“Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica, que estuda as interações entre os seres humanos e outros elementos do sistema, e a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que visem otimizar o bem-estar humano e o desempenho global de sistemas” (IIDA, 2005).

 

Os praticantes da ergonomia são chamados de ergonomistas e realizam o planejamento, projeto e avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas, tornando-os compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas. Frequentemente os ergonomistas trabalham em domínios especializados, abordando certas características do sistema, tais como:

 

  • Ergonomia Física – Ocupa-se das características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica, relacionadas com a atividade física. Os tópicos relevantes incluem a postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho, segurança e saúde do trabalhador.

 

  • Ergonomia Cognitiva – Ocupa-se dos processos mentais, como a percepção, a memória, o raciocínio e a resposta motora, relacionados com a interação entre as pessoas e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem a carga mental, a tomada de decisão, interação homem-computador, estresse e treinamento.

 

  • Ergonomia Organizacional – Ocupa-se da otimização dos sistemas sócio-técnicos, abrangendo as estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, projetos de trabalho, programação do trabalho em grupo, projeto participativo, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho e gestão da qualidade.

 

Portanto, a ergonomia estuda tanto as condições prévias como as consequências do trabalho e as interações que ocorrem entre o ser humano, a máquina e o ambiente durante a realização desse trabalho. Trata-se de uma disciplina abrangente, pois envolve todos os setores das empresas e todos os tipos de profissionais: médicos do trabalho; engenheiros de projetos, de produção, de segurança e manutenção; desenhistas industriais; analistas de trabalho; psicólogos; enfermeiros e fisioterapeutas; programadores de produção; administradores; compradores. Todos podem contribuir para a melhoria das condições de trabalho.

 

O objetivo básico da ergonomia é estudar os diversos fatores que influem no desempenho do sistema produtivo e procura reduzir as suas consequências nocivas sobre o trabalhador. Assim, busca da fadiga, do estresse, de erros e acidentes, de modo a proporcionar segurança, satisfação e saúde aos trabalhadores durante o seu relacionamento com esse sistema produtivo.

 

Principais áreas de estudo da ergonomia

 

  1. Antropometria

 

A antropometria é a ciência das relações entre as medidas do corpo humano. As medidas das pessoas aumentam em função do desenvolvimento humano; variam em função da idade, sexo, região em que nasceu, alimentação, clima, diferenças sociais.

 

O conhecimento dos dados antropométricos é necessário para o projeto de máquinas, equipamentos e postos de trabalho, dependendo do produto e do grupo de usuários:

 

  • Projeto para o tipo médio – aplicável para banco em praça pública e poltrona ou assento em rodoviária, onde o grupo de usuários não é delimitado e eles não precisam permanecer sentados por muito tempo;

 

  • Projeto para indivíduos extremos – aplicável para saídas de emergência e espaços livres (o extremo maior) e para alcances e alturas de prateleiras (o extremo menor)

 

  • Projeto para faixas da população – aplicável para produtos com ajustes em altura, profundidade, inclinação, para bem acomodar cerca de 90% da população;

 

  • Projetos para o indivíduo – aplicável para produtos ortopédicos (único para cada usuário), roupas de astronautas.

 

  • Trabalho Humano

 

Condições de trabalho englobam tudo que influencia o próprio trabalho. Isso inclui o posto, o ambiente, os meios, as tarefas, o método, a organização e a jornada de trabalho, os turnos, as pausas, a alimentação, o serviço médico. É imprescindível, em uma sociedade moderna, que administradores, planejadores e organizadores do trabalho tenham como objetivo básico a sua humanização. Isso implica na necessidade de planejar, projetar e instalar sistemas de trabalho que atendam os requisitos ergonômicos, com o objetivo de garantir boas condições de trabalho.

 

Para se garantir boas condições de trabalho é necessário estudar o sistema, as cargas e as solicitações e os critérios de avaliação do trabalho humano. O trabalho humano é bastante diversificado e o seu espectro pode ser classificado em cinco classes básicas, que se diferenciam nitidamente uma das outras por solicitarem órgãos diferentes e fisiologias do trabalho diferentes. A Tabela 01 apresenta as cinco classes básicas e suas interações.

Tabela 01 – Classes básicas do trabalho humano

 

Conteúdo de tarefas de Trabalho Exemplos Órgãos, capacidades e habilidades mais solicitadas Classificação– Fisiologia do Trabalho
Geração de forças Transporte de bens, trabalho com enxada Músculos e coração Trabalho muscular: pesado, moderado, leve
Coordenação senso-motora Montagem de peças, dirigir veículo, guindaste Músculos e órgãos dos sentidos Trabalho senso-motor
Transformação de informações em reações Atividade de controle qualitativo ou quantitativo Órgãos dos sentidos Trabalho de vigilância e controle
Transformações de informações de entrada em informações de saída Programar, traduzir, gerenciar processos Órgãos dos sentidos, capacidades e habilidades mentais Trabalho com informações, trabalho mental
Geração de informações Ditar, construir, criar, redigir, formular teorias, hipóteses, gerar conhecimento Capacidades e habilidades mentais Trabalho intelectual, trabalho mental.

A análise do quadro mostra que diferentes órgãos atuam dependendo do tipo de trabalho executado, necessitando-se então de análises específicas para cada tarefa e atividade executada. Deve-se destacar ainda que as pessoas são bastante diferentes, exigindo-se em muitos casos análises específicas para a determinação de suas potencialidades.

 

  • Organização Temporal do Trabalho

 

Durante o dia, todos os órgãos e funções do corpo humano estão em estado de disposição para o trabalho. À noite essa disposição cai, o organismo está predisposto para repouso e recomposição das reservas energéticas gastas durante o dia.

 

Trabalhadores noturnos apresentam um estado geral de saúde inferior aos trabalhadores diurnos. As doenças mais comuns entre eles são do sistema digestivo, do sistema circulatório e nervoso. As razões dessas doenças são:

 

– Fadiga crônica, resultante da recuperação incompleta pelo sono que se sabe, é quantitativa e qualitativamente inferior;

 

 – Condições inadequadas de alimentação;

 

 – Uso indiscriminado de remédios ou substâncias estimulantes durante a noite e de calmantes durante o dia.

 

  • Fadiga

 

A fadiga ocasiona uma capacidade de rendimento reduzida e falta de vontade para executar qualquer atividade. Existem dois tipos de fadiga: muscular e generalizada.

 

A fadiga muscular se caracteriza por um evento agudo, dolorido e localizado resultante de carga elevada de trabalho e/ou duração da jornada de trabalho. A sua ocorrência diminui a força muscular e ocasiona demora na execução das tarefas, aumentando o risco de erros e acidentes.

 

A fadiga generalizada se manifesta como um sentimento difuso, acompanhado de inércia (indolência, apatia) e falta de vontade para executar as tarefas. A pessoa se sente bloqueada, perturbada em sua atividade, não tendo vontade para executar algo, sentindo-se pesada e indolente.

 

Vários dos agentes físicos já vistos anteriormente, tais como calor, ruído e vibrações podem contribuir para a ocorrência da fadiga. É necessário haver um equilíbrio entre trabalho e repouso para a redução da fadiga, além de proporcionar ambientes adequados de trabalho.

 

  • Monotonia

 

Por monotonia se entende uma reação do organismo a situações pobres em estímulos ou a condições com pequena mudança de estímulo. Fadiga e monotonia são, às vezes, difíceis de distinguir. A monotonia é um estado de reduzida capacidade psíquica. Como causa da monotonia são apontados longos períodos de:

 

– Tarefas repetitivas com pequeno grau de complexidade, mas sem possibilidade de se desviar do trabalho com pensamentos;

 

– Tarefas de vigilância, pobres em estímulo, que exigem estado de alerta, de atenção contínua, frequentemente encontradas em cabines de comando;

 

– Processos automatizados, condução de trens e aviões, carregar e descarregar máquinas. 

 

Várias condições pessoais podem contribuir para a monotonia, tais como:

 

  – Susceptibilidade pessoal;

  – Cansaço;

  – Trabalho noturno;

  – Baixa motivação;

  – Pessoas com alto nível cultural, conhecimentos e habilidades;

  – Pessoas com alta disposição para rendimento.

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