Como a agroecologia pode contribuir para a conservação e o desenvolvimento sustentável?
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Atualmente, a agroecologia é uma opção muito relevante para a produção de alimentos, possibilitando que a produtividade ocorra sem a necessidade de explorar os recursos naturais ou fazer grandes alterações no meio ambiente. Mas o que é a agroecologia – e como ela surgiu? Para responder essas perguntas, é preciso entender a origem do modelo agrícola que predomina atualmente, que surgiu por volta dos anos 60!
Com o crescimento da população humana, houve uma grande necessidade de aumentar a produção de alimentos. Essas questões tiveram um impacto direto no modo de cultivo e nas técnicas utilizadas durante o plantio: a partir dos anos 60, começaram a ser utilizadas diferentes tecnologias na plantação, como o uso de agrotóxicos e fertilizantes, a manipulação de semente e a mecanização agrícola.
Vemos, então, o uso intensivo de tais tecnologias, principalmente em países em desenvolvimento, como o México, a Índia e o Brasil. Esse processo ficou conhecido como Revolução Verde, e foi responsável por um grande crescimento na produção de alimentos, além de causar um aumento nos investimentos voltados para a pesquisa, infraestrutura e mercado do setor agrário.
Apesar de a Revolução Verde ter resultado no aumento produtivo, o modelo de produção proposto resultou em vários impactos ao meio ambiente – como o desmatamento para criação de áreas de plantio e a contaminação do solo e da água devido ao uso de agrotóxicos e fertilizantes -, e também agravou os impactos advindos da Revolução Industrial.
Além dos impactos ambientais, a Revolução Verde também afetou a esfera social, pois prejudicou a produção da agricultura familiar ao sobrepor os modelos de produção sustentáveis pelo agronegócio. No Brasil, a Revolução Verde foi impulsionada pela ditadura militar, e tornou o país um dos maiores líderes na produção agrícola – posição que o país mantém até hoje.
No entanto, devido à expansão das áreas agrícolas, diferentes biomas nacionais foram desmatados e estima-se que um terço do território brasileiro tenha sido convertido para a produção agrícola. Em um país que abriga tanta diversidade, o modo de produção dificulta a conservação e proteção de áreas naturais, sendo essencial conciliar medidas sustentáveis à agricultura.
Frente ao uso cada vez mais intenso dos recursos naturais, o debate envolvendo as pautas ambientais ganhou mais força e visibilidade, bem como o incentivo a práticas de produção menos exploratórias. Assim, em 1988 surge o termo sustentabilidade, dado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada pelas Nações Unidas, que busca aliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental.
Segundo os princípios da sustentabilidade, é essencial que as metas de produção e desenvolvimento estejam alinhadas com os objetivos propostos para a conservação ambiental. Considerando esses aspectos, o modelo de produção agrícola vindo da Revolução Verde passa a ser alvo de críticas, sendo levantada a necessidade e importância de repensar o modelo de agricultura, para que as áreas agrícolas não só permitam a produção de alimentos, mas também a preservação da biodiversidade.
A partir desse cenário, a agroecologia surge como uma alternativa relevante, que alia a produção de alimentos à manutenção da biodiversidade ao trazer práticas que vinculam a área de plantio às características do ecossistema em que se encontra.
Mas o que exatamente é a agroecologia? A agroecologia é uma prática de agricultura sustentável, que traz o uso de conhecimentos locais e tradicionais, a menor dependência de insumos, o uso de recursos renováveis e acessíveis, indo contra o sistema proposto pela Revolução Verde.
Mesmo opondo-se aos preceitos da Revolução Verde, a agroecologia não rejeita os avanços científicos e tecnológicos para a produção de alimentos, desde que sejam ecologicamente adequados. Ainda, é importante ressaltar que a agroecologia não está envolvida apenas às questões ambientais, pois interliga-se com questões sociais, culturais, econômicas e políticas.
Isso porque, além de manter as características e funções ecológicas do ambiente, a agroecologia é capaz de atender a demanda de produção alimentar, sendo apontado que, a longo prazo, os sistemas agroecológicos têm maiores níveis de produção por área que sistemas de monocultura.
A agroecologia também traz resiliência econômica aos pequenos agricultores que a praticam, fortalecendo a economia solidária e atendendo diferentes metas trazidas pela agenda global: por si só, a agroecologia contempla mais de 5 metas (combate à fome, garantia à segurança alimentar, produção e consumo sustentáveis, proteção de corpos d’água, proteção de ecossistemas aquáticos e terrestres e combate à perda da biodiversidade).
No Brasil, a agroecologia fortaleceu-se com o surgimento de organizações rurais e movimentos sociais, que lutavam (e lutam) por políticas públicas que permitissem a expansão e estabilidade produtiva de produtores tradicionais. Juntamente à luta por direitos, tais organizações levantaram pautas socioambientais, em defesa das práticas sustentáveis na produção agrícola.
Desse modo, cada vez mais práticas alternativas de cultivo começaram a ser utilizadas e compartilhadas entre os produtores, como resposta à modernização. A coordenação cada vez mais estruturada entre iniciativas locais e regionais dos próprios agricultores, resultou na maior articulação entre os movimentos e organizações sociais e no acúmulo e socialização de conhecimentos agroecológicos.
Como resultado desse cenário, houve não só um fortalecimento das pautas que visam a transição agroecológica, mas também das próprias iniciativas dos pequenos produtores, culminando em sua organização e diálogo a nível nacional e sua eventual formalização, através da criação da Articulação Nacional de Agroecologia e da Associação Brasileira de Agroecologia.
Ainda, houve o estabelecimento de políticas públicas voltadas exclusivamente à agroecologia e produção orgânica, como a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO). Em conjunto, a PNAPO e o PLANAPO. promovem a implantação e fortalecimento de sistemas agroecológicos através de diferentes iniciativas, aliadas à políticas públicas que endossam a transição entre os sistemas produtivos no Brasil.
O PLANAPO é um instrumento da PNAPO e, ao estabelecer metas e estratégias pertinentes à agroecologia, divididas em diferentes eixos, tem seu papel voltado para o suporte ao manejo de sistemas agroflorestais, a fim de fortalecer seus impactos positivos à esfera socioambiental, fortemente vinculados ao desenvolvimento sustentável.
A prática agroecológica vincula-se diretamente ao meio ambiente, trabalho, alimentos e energia, e contribui para a diminuição dos impactos ambientais, para a integração da sustentabilidade ao manejo e uso de recursos e na soberania e segurança alimentar. Ainda, por associar a produção de alimentos com a conservação da biodiversidade e preservar as características inerentes ao ecossistema no planejamento e execução do cultivo, a agroecologia por si só tem grande atuação na agenda global.
Possuir uma política como a PNAPO e uma ferramenta de apoio à agroecologia e produção orgânica, como o PLANAPO, não só permite o diálogo com políticas relacionadas, mas garante o suporte e implementação de sistemas agroflorestais no Brasil. Em um país biodiverso e extenso como o nosso, é de grande relevância haver ferramentas que auxiliem a transição agroecológica e que apoiem as comunidades e os produtores envolvidos nas práticas agroecológicas.
Subsidiar tais práticas fortalece tanto sistemas já existentes quanto a expansão de áreas voltadas à agroecologia, tornando o cultivo mais sustentável, e contribui diretamente para o alcance da Agenda 2030 e do desenvolvimento sustentável!