|Série Biomas| O pequeno, mas rico Bioma Pampa (V.4, N.3, P.5, 2021)
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Esta série sobre Biomas é o resultado dos trabalhos da disciplina Ciência Ambiental, ministrada pelo professor Prof. Dr. Ricardo H. Taniwaki, no âmbito do Programa de pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal do ABC.
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Bioma Pampa é um dos seis biomas continentais brasileiros e possui uma biodiversidade própria, percebida principalmente pela fisionomia da vegetação nativa. Segundo o ministério do meio ambiente (MMA, 2020), este bioma no Brasil está restrito ao Estado do Rio Grande do Sul, ocupando uma superfície de 178.243 km², correspondendo a 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro. Já na América do Sul, os campos e Pampas estendem-se por parte da Argentina, pelo Uruguai e no Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul.
Este Bioma abriga um imenso patrimônio cultural associado a biodiversidade. Estima-se a existência de mais de 3.000 espécies de plantas, 500 espécies de aves e mais de 100 espécies de mamíferos. No bioma Pampa existem espécies endêmicas, ou seja, que existem somente nessa região, tais como o beija-flor-de-barba-azul (Heliomaster furcifer) e o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) dentre outros. E espécies como o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus) ameaçada de extinção segundo o MMA (2020).
Sua característica é de campos temperados, entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados. A Embrapa (2020) destaca que, apesar de ser um bioma que a presença dominante é de campos e gramíneas, abriga também florestas, arbustos e até cactos. Uma curiosidade sobre este Bioma é a temperatura média anual, que varia de 13°C a 17°C, ou seja, lá é sempre friozinho!
A conversão rápida de áreas de campo para as plantações de soja e o uso em excesso de agrotóxico são as atuais preocupações para esse Bioma. As áreas de plantio de soja cresceram 57%, arroz 22,2% e houve uma diminuição de 55,9 de plantação de milho no Rio Grande do Sul. O crescimento da plantação de soja ocorre na metade sul do Estado do RS, substituindo a plantação de milho, sendo que a plantação de soja aumentou cerca de 188,5% entre 2000 a 2019 (CAPOANE, 2017). De acordo com o MMA (2020) o Bioma Pampa possui cerca de 3,6% de áreas protegidas.
Com a diminuição das áreas de campo nativo, devido ao aumento da agricultura e silvicultura, surgem pressões da parte dos pecuaristas, obrigando a introdução de espécies exóticas sobre o campo nativo. Dentre todas as atividades econômicas nesse Bioma, a mais prejudicial é a soja, devido principalmente ao agrotóxico utilizado (CAPOANE, 2017). A transformação do bioma Pampa demonstra a necessidade de aplicação de leis ambientais mais rígidas com punições mais severas e a adequação do tipo de atividade agropecuária para ajudar a manter a área de campo nativo do bioma.
Mesmo com o aumento das plantações e pastagens para gado, estudos de preservação ambiental estão sendo realizados como forma de mitigar os danos causados a esse rico bioma. Um dos exemplos é um estudo realizado por Siqueira et. al (2020), onde foi avaliada uma alternativa para a preservação de espécies nativas ameaçadas de extinção com a produção de mudas em estufa. A planta escolhida foi a Hesperozygis ringens (Figura 2), e o resultado foi muito positivo, pois apresentaram alta porcentagem de enraizamento, demonstrando que o estudo foi viável tanto direto na natureza quanto a plantação na estufa. Uma curiosidade: a Hesperozygis ringens (nome científico) possui um óleo que apresenta alto potencial larvicida, auxiliando no controle e na eliminação de ovos de carrapatos em bovinos.
Uma outra forma de mitigação encontrada por estudantes, desta vez da Universidade de Santa Maria, RS, foi uma chuva de sementes em diferentes usos do solo de formações florestais, na região da Serra do Sudeste. Foram amostradas 239.988 sementes distribuídas por todas as áreas dessa região e o estudo concluiu que a chuva de sementes é uma técnica promissora e expressa a dinâmica natural da vegetação. A chuva de sementes por restauração ativa (onde o ser humano influência) foi mais eficiente do que a passiva (PROCKNOW, D. 2020).
Como a produção pecuária é uma atividade importante para o Rio Grande do Sul, estudos consideram a exploração de pastagens naturais para pecuária como uma atividade importante para a economia e para aspectos sociais e ambientais. Este tipo de atividade pecuária, além de obter maior rentabilidade da produção, ainda se torna uma estratégia de uso sustentável dos campos do bioma Pampa, como apresenta o estudo de Fontana et. al. (2020). O estudo abordou e apontou a hipótese de utilizar NDVI/MODIS (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada/ Moderate Resolution Imagin Spectroradiometer) como indicador do crescimento natural dos campos, associada as condições climáticas e ao manejo como forma de subsidiar a modelagem de crescimento. Os resultados com o uso de NDVI foram favoráveis a hipótese, trazendo excelentes recomendações e a viabilidade no uso de imagens orbitais gratuitas e disponíveis em tempo real que poderá auxiliar os agricultores a alinhar suas práticas de manejo e o monitoramento das estações no ano onde a forragem em campos naturais seja propicia para a alimentação do gado.
Assim, concluímos que o Bioma Pampa, por ser endêmico e abrigar uma rica biodiversidade de espécies, necessita de leis mais rígidas e que a preservação seja o mais abrangente possível. Também é percebível e ameaçador como o número de pastagens e da agropecuária tem aumentado, porém, também é proposto um melhor manejo agropecuário, onde a preservação deste bioma converse com a necessidade do ser humano, tornando essa estratégia sustentável e rentável. Concluímos também que os diversos esforços para uma recuperação da flora existente têm demonstrado resultados excelentes para o bioma e enriquecedor para os pesquisadores que não medem esforços para conservar o que temos a milhões de anos e que é tão importante para as vidas de que dele dependem.
Referências:
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Pampa. 2020. Disponível em: https://www.mma.gov.br/biomas/pampa.html. Acesso em: 07.10.2020
CAPOANE,V.; KUPLICH, T. M. Expansão da agricultura no Bioma Pampa. 2017. Disponível em: plutao.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/plutao/2018/12.14.21.45/doc/capoane_expansao.pdf -Acesso em 07.10.2020.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA. Contando Ciência na Web. Pampa.V. 3.92.1. p.03. Disponível em: https://www.embrapa.br/contando-ciencia/bioma-pampa. Acesso em: 07.10.2020
FONTANA, Denise Cybis et al . NDVI and meteorological data as indicators of the Pampa biome natural grasslands growth. Bragantia, Campinas , v. 77, n. 2, p. 404-414, June 2018 . Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-87052018000200404&lng=en&nrm=iso. access on 08 Oct. 2020. Epub Apr 23, 2018. https://doi.org/10.1590/1678-4499.2017222.
PROCKNOW, Djoney et al. Seed rain as an ecological indicator of forest restoration in the Pampa biome. Brazilian Journal of Agricultural Sciences, Recife, PE, ano 2020, v. 15, n. 7220, 12 maio 2020. CIÊNCIAS FLORESTAIS), p. 1-8. DOI DOI:10.5039/agraria.v15i3a7220.
SIQUEIRA, J. et. al. (2020). Vegetative propagation of na endemic species of the Pampa biome. Ciência e Natura, 42, e68. doi:https://doi.org/10.5902/2179460X39235.
YAMASAKI. G.; Cultivando. Estaquia. 2015. Disponível em: https://www.cultivando.com.br/estaquia/. Acesso em: 08.10.2020
Imagem destacada: Ambiente característico do bioma pampa. Foto: Arlei antunes