Produtos de limpeza – Quando o barato pode sair caro (V.6. N.7. P.7, 2023)

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Divulgadores e divulgadoras: Ana Harumi Figita de Maria, Bruna dos Santos Rocha, Guilherme Araújo Salmazzi, Gustavo de Paula Souza, Kamilly Silva Marchi, Luiz Paulo de Sousa, Renato Luchini Malatesta Junior, Stevan Miguel Gonzales, Ian Kohutek, Renata Simões

Como você escolhe os produtos de limpeza que utiliza em casa? Escolhe pela fragrância que mais te agrada? Prefere o produto mais barato? Não abre mão do produto de marca? Pois é! Cada consumidor tem uma forma para escolher o produto que vai levar para casa. No entanto, escolher esse tipo de produto sem saber se ele é eficiente para eliminar a sujeira das mais variadas superfícies, pode não ser a melhor opção. Você pode estar pagando por um produto que não limpa de fato a sua casa! Um produto de menor custo ou com fragrância agradável pode não ser eficiente em eliminar os microrganismos das superfícies, além de necessitar de maior quantidade para obter os mesmos resultados de um produto de boa qualidade. Isso é economia na base da porcaria, né!

Atualmente os fabricantes aplicam diversas tecnologias para que o produto multiuso possa ser utilizado nas mais diversas superfícies e diminuam a aderência da sujeira na superfície. Além disso, os “limpadores multiuso” tem função desengordurante, desinfetante e detergente. Você deve estar se perguntando: “se são todos produtos multiuso, eles não deveriam ser todos iguais e custar a mesma coisa?!”. A primeira resposta seria “sim!”. O que faz os preços variarem é o tipo de ação, as diferenças nas formulações, produtos concentrados que podem ser vendidos em embalagens menores, diminuindo assim o custo do fabricante. 

Para tentar ajudar você a escolher o produto multiuso mais eficiente para limpar a sua casa, fizemos um estudo para avaliar a relação entre o custo e a eficiência de três marcas diferentes desses produtos e verificar a capacidade de limpeza de cada um dos produtos selecionados para este estudo. O custo de cada produto foi R$32,63/Litro (produto A), R$ 13,49 /Litro (produto B) e R$ 5,29 /Litro (produto C). 

Em um primeiro teste, embebemos fragmentos de papel filtro (chamados de “corpo de prova”) com cada uma das três marcas de produto multiuso. Além disso, usamos um fragmento de papel filtro embebido com água autoclavada e outro com uma cepa de bactéria E. coli que serviram como controles do estudo. Os fragmentos de papel filtro foram colocados em placas de Petri contendo 60 mL de meio de cultivo (LB Broth) conforme mostra a figura 1A. Todas as placas foram mantidas em estufa bacteriológica a 37ºC por 72 horas.

Depois desse teste fizemos uma avaliação microbiológica dos produtos multiuso das três marcas diferentes. Para isso, demarcamos no chão três quadrados (A, B e C). Coletamos uma amostra de cada quadrado sem nenhum tipo de limpeza (AS, BS e CS). Após essa coleta, cada quadrado foi limpo com 10g de cada produto multiuso (A, B ou C). Todas as amostras foram colocadas em placas de Petri (AL, BL e CL) contendo 15 mL de meio de cultivo (LB Broth) conforme mostra a figura 1B. Todas as placas foram mantidas em estufa bacteriológica a 37ºC por 72 horas.

Figura 1 – Exemplos de placa de petri utilizadas no experimento 1 (A) e no experimento 2 (B) para avaliação da eficiência de diferentes produtos de limpeza multiuso. A seta vermelha indica um corpo de prova; S: controle negativo; E: controle positivo; AL: amostra experimental.

Depois do tempo de incubação na estufa observamos que os halos ao redor dos papéis filtro A, B e C apresentaram diâmetros semelhantes (Figura 2). O diâmetro do halo do produto A, após 3 dias de cultivo, foi de 5 mm de diâmetro. Já os produtos B e C apresentam halo de 4 mm de diâmetro. Os resultados indicam que as diferentes marcas de produtos de limpeza avaliadas parecem ter eficiência semelhante para limpeza de superfícies.

Figura 2 – Teste de película seca após 72 horas de cultivo em estufa bacteriológica a 37ºC. 1: E.coli; 2: água autoclavada; 3: produto C; 4: produto B; e 5: produto A.

Quando avaliamos os resultados do segundo teste foi possível observar que houve diferença entre as três marcas de produtos multiuso (figura 3). O produto A (maior custo) e B (custo intermediário) se mostraram mais eficientes na limpeza de superfícies, quando comparados com o produto C (menor custo).

Figura 3 – Análise microbiológica para verificar a eficiência dos produtos de limpeza multiuso após 72 horas de cultivo em estufa bacteriológica a 37ºC. AS, BS e CS: amostras coletadas de superfícies sem nenhum tipo de limpeza; AL: superfície limpa com o produto A; BL: superfície limpa com o produto B; e CL: superfície limpa com o produto C.

A diferença de custo entre as diferentes marcas pode estar relacionada com a diferença de composição dos produtos avaliados. Ao comparar as embalagens dos três produtos, verificamos que o princípio ativo dos produtos A e B era o alquilbenzeno sulfonato de sódio, enquanto, no produto C, era o nonilfenol etoxilado. O alquilbenzeno sulfonato de sódio é um tensoativo, substância capaz de romper a membrana da célula de vários microrganismos3. Os tensoativos podem ser encontrados em produtos como detergentes com propriedades de eliminar bactérias, por exemplo. 

Com esses resultados conseguimos mostrar que os produtos de maior custo (A e B) foram mais eficientes para eliminar microrganismos presentes em superfícies sujas, quando comparados com o produto de menor custo (produto C). Sendo assim, é importante se atentar ao rótulo do produto escolhido para saber qual a sua composição e assim selecionar o produto que tenha uma fragrância agradável, mas que também limpe a sua casa de verdade. O investimento vale a pena!

 

REFERÊNCIAS

  1. Frota OP, Ferreira AM, Guerra OG, Rigotti MA, de Andrade D, Borges NMA, de Almeida MTG. Eficiência da limpeza e desinfecção de superfícies: correlação entre métodos de avaliação. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 70, n. 6, p. 1176-83, 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0608.
  2. Rigotti MA. Limpeza e desinfecção de superfícies hospitalares: subsídio para elaboração e avaliação de rotinas. 2017. 70 f. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, 2017.
  3. Costa MF, Carvalho BMA, Oliveira AM, Oliveira Jr, EM. Biodegradação do surfactante linear alquilbenzeno sulfonato de sódio utilizando fungos filamentosos. Blucher Chemical Engineering Proceedings, v. 1, n. 2, 2015. DOI: 10.5151/chemeng-cobeq2014-0917-22466-150356.

 

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