Dermatite atópica tem tratamento? (V.6. N.6. P.6, 2023)
Tempo estimado de leitura: 6 minute(s)
Você conhece a sua pele?
A pele é considerada o maior órgão do corpo humano e localiza-se entre os órgãos internos e o meio ambiente, sendo considerada uma importante barreira imunológica com funções como percepção sensorial, regulação térmica, controle da perda de fluidos e via para administração de fármacos. Sua estrutura é organizada em diferentes camadas, da mais externa para mais interna, denominadas estrato córneo (EC), epiderme, derme e hipoderme, sendo cada uma constituída por diversos tipos de células, por exemplo na epiderme podem ser encontradas células do sistema imune, responsáveis pela defesa do nosso corpo. O EC, a camada mais superficial da pele, é constituído por células chamadas corneócitos, é essencial na manutenção dessas funções tanto em condições saudáveis quanto patológicas (Figura 1).
O que é Dermatite atópica?
A Dermatite atópica (DA) é uma patologia decorrente da alteração da barreira cutânea, redução da hidratação da pele e inflamações frequentes acompanhadas por um prurido (coceira) crônico, que atinge cerca de 15 a 30 % da população de crianças e adultos em países industrializados. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a DA é incidente desde a infância e se prolonga pelos anos de vida adulta. As causas da DA envolvem um conjunto de fatores genéticos e ambientais, tais como baixa umidade e mudança na composição dos microorganismos (bactérias, fungos, vírus) que habitam nossa pele. Lesões na pele, que comprometem a função de células como queratinócitos e diminuem a produção de componentes da barreira física (lipídeos, por exemplo) aumentam o dano à barreira cutânea e acelera a inflamação da pele. Em pacientes com DA, proteínas inflamatórias são produzidas pelos queratinócitos em resposta à alteração da barreira. Além disso, as lesões cutâneas da DA são consideradas reações imunológicas que respondem à exposição a fatores ambientais, como alérgenos (por exemplo, ácaros da poeira doméstica, pólen e alimentos) ou patógenos (por exemplo, bactérias como S. aureus). Nesse estágio da patologia, há produção de citocinas (proteínas secretadas por células do sistema imune que residem na pele) IL4- e IL-13, nas lesões inflamatórias, o que compromete a regeneração tecidual e diminui a produção dos componentes da barreira física (lipídeos, por exemplo) além de aumentarem a produção de anticorpos (como a Imunoglobulina E, IgE).
Quais os tratamentos disponíveis para a Dermatite Atópica?
A pele com DA apresenta lesões com perda de água, lipídeos e inflamação devido a produção de moléculas inflamatórias. O tratamento inicial de indivíduos com DA baseia-se no uso de hidratantes e alguns anti-inflamatórios tópicos, como corticosteróides, que reduzem as causas da inflamação e do prurido. O uso de hidratantes no tratamento inicial visa a retenção de água na região afetada, melhorando a função e a regeneração da barreira cutânea além de prevenir infecções microbianas oportunistas. Porém, alguns hidratantes podem causar efeitos tóxicos locais em crianças, uma das populações mais afetadas pela DA. Além disso, o uso prolongado de antiinflamatórios (como corticosteróides) pode causar irritação da pele, vermelhidão e descamação, o que motiva a pesquisa por novos tratamentos para a DA, como sistemas nanocarreadores ou “nanomedicamentos” para “carregar” moléculas bioativas, direcionadas ao local inflamado.
Como perspectiva de tratamento da DA, os principais sistemas nanocarreadores ou “nanomedicamentos” utilizados incluem lipossomas e nanoemulsões, que permitem a passagem de algumas moléculas através da pele. Outros sistemas, como nanopartículas lipídicas podem formar barreiras protetoras na superfície da pele, o que também melhora a hidratação. De fato, a entrega direcionada à inflamação local na pele aumenta a disponibilidade dos tratamentos, melhora a retenção, adesão e acesso da molécula bioativa ao local das lesões. Ao mesmo tempo, espera-se um melhor perfil de segurança, permitindo o uso de baixa dosagem do bioativo e reduzindo efeitos adversos como irritação e alergia, o que aumenta a adesão ao tratamento pelos pacientes com DA.