Dermatite atópica tem tratamento? (V.6. N.6. P.6, 2023)

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Divulgadora e divulgador: Daniele Ribeiro de Araujo e Vinícius de Andrade Oliveira

Você conhece a sua pele?

A pele é considerada o maior órgão do corpo humano e localiza-se entre os órgãos internos e o meio ambiente, sendo considerada uma importante barreira imunológica com funções como percepção sensorial, regulação térmica, controle da perda de fluidos e via para administração de fármacos. Sua estrutura é organizada em diferentes camadas, da mais externa para mais interna, denominadas estrato córneo (EC), epiderme, derme e hipoderme, sendo cada uma constituída por diversos tipos de células, por exemplo na epiderme podem ser encontradas células do sistema imune, responsáveis pela defesa do nosso corpo. O EC, a camada mais superficial da pele, é constituído por células chamadas corneócitos, é essencial na manutenção dessas funções tanto em condições saudáveis quanto patológicas (Figura 1).

Figura 1- Representação esquemática das camadas celulares que compõem a pele

O que é Dermatite atópica?

A Dermatite atópica (DA) é uma patologia decorrente da alteração da barreira cutânea, redução da hidratação da pele e inflamações frequentes acompanhadas por um prurido (coceira) crônico, que atinge cerca de 15 a 30 % da população de crianças e adultos em países industrializados. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a DA é incidente desde a infância e se prolonga pelos anos de vida adulta. As causas da DA envolvem um conjunto de fatores genéticos e ambientais, tais como baixa umidade e mudança na composição dos microorganismos (bactérias, fungos, vírus) que habitam nossa pele. Lesões na pele, que comprometem a função de células como queratinócitos e diminuem a produção de componentes da barreira física (lipídeos, por exemplo) aumentam o dano à barreira cutânea e acelera a inflamação da pele. Em pacientes com DA, proteínas inflamatórias são produzidas pelos queratinócitos em resposta à alteração da barreira. Além disso, as lesões cutâneas da DA são consideradas reações imunológicas que respondem à exposição a fatores ambientais, como alérgenos (por exemplo, ácaros da poeira doméstica, pólen e alimentos) ou patógenos (por exemplo, bactérias como S. aureus). Nesse estágio da patologia, há produção de citocinas (proteínas secretadas por células do sistema imune que residem na pele) IL4- e IL-13, nas lesões inflamatórias, o que compromete a regeneração tecidual e diminui a produção dos componentes da barreira física (lipídeos, por exemplo) além de aumentarem a produção de anticorpos (como a Imunoglobulina E, IgE). 

Figura 2- Causas e desenvolvimento das lesões inflamatórias formadas na pele com Dermatite Atópica.

Quais os tratamentos disponíveis para a Dermatite Atópica?

A pele com DA apresenta lesões com perda de água, lipídeos e inflamação devido a produção de moléculas inflamatórias. O tratamento inicial de indivíduos com DA baseia-se no uso de hidratantes e alguns anti-inflamatórios tópicos, como corticosteróides, que reduzem as causas da inflamação e do prurido. O uso de hidratantes no tratamento inicial visa a retenção de água na região afetada, melhorando a função e a regeneração da barreira cutânea além de prevenir infecções microbianas oportunistas. Porém, alguns hidratantes podem causar efeitos tóxicos locais em crianças, uma das populações mais afetadas pela DA. Além disso, o uso prolongado de antiinflamatórios (como corticosteróides) pode causar irritação da pele, vermelhidão e descamação, o que motiva a pesquisa por novos tratamentos para a DA, como sistemas nanocarreadores ou “nanomedicamentos” para “carregar” moléculas bioativas, direcionadas ao local inflamado. 

Como perspectiva de tratamento da DA, os principais sistemas nanocarreadores ou “nanomedicamentos” utilizados incluem lipossomas e nanoemulsões, que permitem a passagem de algumas moléculas através da pele. Outros sistemas, como nanopartículas lipídicas podem formar barreiras protetoras na superfície da pele, o que também melhora a hidratação. De fato, a entrega direcionada à inflamação local na pele aumenta a disponibilidade dos tratamentos, melhora a retenção, adesão e acesso da molécula bioativa ao local das lesões. Ao mesmo tempo, espera-se um melhor perfil de segurança, permitindo o uso de baixa dosagem do bioativo e reduzindo efeitos adversos como irritação e alergia, o que aumenta a adesão ao tratamento pelos pacientes com DA.

Figura 3- Tratamentos convencionais (corticóides e hidratantes) e perspectivas de sistemas nanocarreadores utilizados para o tratamento da Dermatite Atópica.

Para saber mais:

  1. Bhanot A, Huntley A, Ridd MJ. 2019. Adverse Events from Emollient Use in Eczema: A Restricted Review of Published Data. Dermatol Ther. 9:193–208.
  2. Campos EVR, Proença PLF, Doretto-Silva L, Andrade-Oliveira V, Fraceto LF, de Araujo DR. 2020. Trends in nanoformulations for atopic dermatitis treatment. Expert Opin Drug Deliv. 17:1615-1630. 
  3. Furue M, Chiba T, Tsuji G, Ulzii D, Kido-Nakahara M. 2017. Atopic dermatitis: immune deviation, barrier dysfunction, IgE autoreactivity and new therapies. Allergol Int. 66:398–403. 
  4. Kakkar V, Kumar M, Saini K. 2019. An Overview of Atopic Dermatitis with a Focus on Nano-Interventions. EMJ Innov. 3:44-54.
  5. Klonowska J, Glen J, Nowicki RJ, Trzeciak M. 2018. New Cytokines in the Pathogenesis of Atopic Dermatitis-New Therapeutic Targets. Int. J. Mol. Sci. 19: 3086. 
  6. Tanei R, Hasegawa R. 2022. Immunological Pathomechanisms of Spongiotic Dermatitis in Skin Lesions of Atopic Dermatitis. Int. J. Mol. Sci. 23:6682.
  7. Uche LE, Gooris GS, Bouwstra JA, Beddoes CM. 2019. Increased Levels of Short-Chain Ceramides Modify the Lipid Organization and Reduce the Lipid Barrier of Skin Model Membranes. Langmuir. 35:15376-15388. 

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