Consumir alface é saudável, mas… você sabe lavar? (V.6. N.6. P.4, 2023)

Tempo estimado de leitura: 10 minute(s)

Divulgadores e divulgadoras: Bruno Delphini Fontanezi, Ellen Cristina Machado, Julia Oliveira Castro, Michelle Pereira Fazano, Henrique Albanez Garcia de Paula, Caio Andrade Medina, Julia Gomes Bocardo, Ronan Alkmim Coelho, Bruno Henrique Taglieri, Pietro Guedes Souza, Renata Simões

 

Todos sabem sobre a importância de consumir hortaliças diariamente. Estes alimentos são ricos em vitaminas, sais minerais, fibra e antioxidantes. Além disso, são alimentos que ajudam na hidratação e a maioria delas tem poucas calorias. O consumo diário de hortaliças pode ajudar na prevenção e proteção de doenças como doenças cardiovasculares e até alguns tipos de câncer. Ainda, as hortaliças ajudam na diminuir o acúmulo de gordura corporal e a obesidade.

Uma das hortaliças mais consumidas no Brasil é á alface. Esta hortaliça pertence à mesma família da escarola e da alcachofra. Rica em minerais como cálcio e vitaminas (A,  B1,  B2  e  C), a alface traz diversos benefícios à saúde, como: fortalecimento do sistema imunológico; redução de doenças oftalmológicas; prevenção da constipação intestinal, hidratação do corpo e redução da pressão arterial.

O consumo de alimentos crus sem a devida higienização pode levar a episódios de intoxicações alimentares por micro-organismos patogênicos. Por isso é importante que todos saibam como lavar de forma adequada hortaliças como a alface. A higienização dos alimentos pode ser feita com soluções capazes de eliminar ou reduzir o crescimento de microrganismos. No entanto, não sabemos se as diferentes soluções utilizadas no nosso dia-a-dia são de fato capazes de higienizar esses alimentos. Para isso realizamos um estudo para avaliar a eficácia de diferentes métodos populares utilizados para higienizar hortaliças.

Para este estudo utilizamos folhas de alface que foram divididas em 7 grupos, de acordo com o tipo de lavagem realizada (Quadro 1). Uma amostra de alface não foi higienizada (T1) para verificar o desenvolvimento de micro-organismos sem nenhuma interferência de métodos de higienização.

Quadro 1 – Descrição dos métodos de higienização das amostras de alface

Tipo de higienização Como foi feita a higienização?
Alface higienizada apenas com água de torneira (T2) A alface foi lavada em água corrente
Alface higienizada com hipoclorito de sódio (T3) Foram seguidas as instruções do fabricante. Foi feita uma solução de 1 L de água com 20 gotas do produto comercial. A alface foi mantida imersa na solução por 30 minutos. 
Alface higienizada com solução de limão (T4) Foi preparada uma solução de 100 mL de água destilada e 4,5 mL de suco de limão. A alface permaneceu mergulhada na solução por 30 minutos.
Alface higienizada com solução de vinagre (T5) Foi preparada uma solução de 100 mL de água com 3 mL de vinagre. A alface permaneceu nesta solução por 30 minutos.
Alface higienizada com água sanitária (T6) Foi feita uma solução de 1 L de água com 15 mL de água sanitária. A alface foi mantida nesta solução durante 30 minutos.
Alface higienizada com solução combinada de vinagre e limão (T7) Foi preparada uma solução de 100 mL de água destilada e 4,5 mL de suco de limão e 3 mL de vinagre. A alface permaneceu mergulhada na solução por 30 minutos.

Depois de preparar as folhas de alface, todas as amostras foram colocadas em placas de Petri, de acordo com o tratamento (T1 a T7) contendo 15 mL de meio de cultivo (LB Broth) conforme mostra a figura 1. Todas as placas foram mantidas em estufa bacteriológica a 37oC por 72 horas. Todo o experimento de microbiologia foi realizado em fluxo laminar. 

Figura 1 – Exemplo de placa de petri utilizada para avaliação microbiológica de amostra de alface. C1: controle negativo. C2: controle positivo (E. Coli); T3: amostra experimental.

Depois do tempo de incubação na estufa observamos que a alface sem higienização (T1; figura 2A) e a alface lavada apenas com água (T2; figura 2B) houve desenvolvimento de micro-organismos. Além disso, também foi observado o desenvolvimento de micro-organismos nas alfaces higienizadas com solução de limão (T4; figura 2C), alface lavada com vinagre (T5; figura 2D) e com  solução de limão e vinagre (T7; figura 2E. Estes resultados mostram que esses métodos não foram eficientes para remover os micro-organismos do alimento.

Figura 2 – Avaliação microbiológica de amostra de alface após 72 horas de cultivo em estufa bacteriológica (37ºC). T1: amostra de alface sem higienização; T2: amostra de alface higienizada apenas com água; T4: amostra de alface higienizada com solução de limão; T5: amostra de alface higienizada com solução de vinagre; e T7: amostra de alface higienizada com solução combinada de vinagre e limão.

Apesar da solução de limão não ter sido eficiente para higienizar a alface no presente estudo, este tipo de lavagem já mostrou resultados eficientes em outro trabalho. Essa diferença pode ter acontecido uma vez que o suco de limão não possui 100% de eficácia para eliminar todas as espécies de bactérias. Outra possível explicação é que a alface não carrega somente bactérias, mas também pode conter vírus e fungos que o suco de limão não pode eliminar

Da mesma forma como o suco de limão, o vinagre não conseguiu eliminar os micro-organismos da alface. Possivelmente isso aconteceu por que o vinagre tem entre 4% e 6% de ácido acético. Em um trabalho científico foi demonstrado que concentrações inferiores de 25%, foi observado o crescimento de micro-organismos.  A concentração de vinagre que tem ação antisséptica é acima de 25%. Portanto, o vinagre que usamos na cozinha não é uma boa opção para lavar e higienizar as hortaliças. 

Por outro lado, quando a alface foi lavada em solução de hipoclorito de sódio (T3) e com solução de água sanitária (T6), não mostraram crescimento de micro-organismos (Figura 3). Uma possível explicação para este fato se deve a formação de ácido hipocloroso, quando o hipoclorito de sódio entra em solução com água. O Ácido Hipocloroso é eficaz na eliminação de micro-organismos.

Figura 3 – Avaliação microbiológica de amostra de alface após 72 horas de cultivo em estufa bacteriológica (37ºC). T3: amostra de alface higienizada com solução de hipoclorito de sódio; e T6: amostra de alface higienizada com solução de água sanitária.

Com esse estudo foi possível mostrar que o hipoclorito de sódio e a água sanitária foram os únicos métodos eficientes para evitar o desenvolvimento de micro-organismos em amostras de alface. Fique atento na hora de consumir alimentos crus sem a devida higienização e bom apetite!

 

REFERÊNCIAS

  1. NASCIMENTO WM. Por que devemos consumir mais hortaliças? Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/56533086/artigo—por-que-devemos-consumir-mais-hortalicas  Acesso em: 29 de março de 2023.
  2. MILLER V; MENTE A; DEHGHAN M; RANGARAJAN S; ZHANG X; SWAMINATHAN S; DEGENAIS G; GUPTA R; MOHAN V; LEAR S; BANGDIWALA SI; SCHUTTE AE; WENTZEL-VILJOEN E; AVEZUM A; ALTUNTAS Y; YUSOFF K; ISMAIL N; PEER N; CHIFAMBA J; DIAZ R; RAHMAN O; MOHAMMADIFARD N; LANA F; ZATONSKA K; WIELGOSZ A; YUSUFALI A; IGBAL R; LOPEZ-JARAMILLO P; KHATIB R; ROSENGREN A; KUTTY VR; LI W; LIU J; LIU X; YIN L; TEO K; ANAND S; YUSUF S. Fruit, vegetable, and legume intake, and cardiovascular disease and death in 18 countries (PURE): a prospective cohort study. Lancet, v. 390, n. 10107, p. 2049, 2017. DOI: 10.1016/S0140-6736(17)32253-5.
  3. AUNE D; GIOVANNUCCI E; BOFFETTA P; FADNES L; KEUM N; NORAT T; GREENWOOD DC; RIBOLI E; VATTEN LJ; TONSTAD S. Fruit and vegetable intake and the risk of cardiovascular disease, total cancer and all-cause mortality – a systematic review and dose-response meta-analysis of prospective studies. Int. J. Epidemiol., v. 46, n. 3, p. 1029-1056, 2017. DOI: 10.1093/ije/dyw319.
  4. FOKVORD F; NADERER B; COATES A; BOYLAND E. Promoting fruit and vetetable consumption for childhood obesity prevention. Nutrients, v. 14, n. 1, 2021. DOI: 10.3390/nu14010157.
  5. RODRIGUES P. Embrapa lança nova variedade de alface tolerante ao calor. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/42735426/embrapa-lanca-nova-variedade-de-alface-tolerante-ao-calor#:~:text=Prefer%C3%AAncia%20dos%20consumidores%20No%20mercado,alface%20preferido%20pelos%20consumidores%20brasileiros. Acesso em: 29 de março de 2023.
  6. KIM MJ; MOON Y; TOU J; WATERLAND NL. Nutritional value, bioactive compounds and health benefits of lettuce (Lactuca sativa L.). Journal of Food Composition and Analysis, v. 49, p. 19-34, 2016. DOI: 10.1016/j.jfca.2016.03.004.
  7.  LANA MM. Lavagem e Sanitização. Disponível em: https://www.embrapa.br/hortalica-nao-e-so-salada/sanitizacao Acesso em: 29 de março de 2023.
  8. OLIVEIRA, L. Efeito inibitório dos óleos essenciais de alfavacão (Ocimum gratissimum L.) e cravo-da-índia (Syzygium aromaticum L.) e do suco de limão (Citrus latifólia Tanaka) frente às bactérias Staphylococcus aureus e Escherichia coli isoladas de carcaças de ovinos. 2011. 97f. (Mestrado em Ciências Agrárias) – Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais, Montes Claros, 2011.
  9. RIZZON LA. Sistema de produção de vinagre. Disponível em: https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Vinagre/SistemaProducaoVinagre/composicao.htm#:~:text=Ele%20prov%C3%A9m%20da%20oxida%C3%A7%C3%A3o%20do,de%20%C3%A1cido%20ac%C3%A9tico%20para%20vinagre. Acesso em: 29 de março de 2023.
  10. UTYAMA IKA; ANDRADE D; WATANABE E; ITO LY. Atividade antimicrobiana in vitro do ácido acético e dos vinagres branco e tinto sobre bactérias hospitalares. R. Ci. Méd. Biol., v. 5, n. 2. P. 111-116, 2006. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/20443/1/2_v.5_2.pdf. Acesso em: 29 de março de 2023.
  11. MARQUES A. A química da água sanitária. Ligados pela Química – DQ/UFPR. Disponível em: http://www.quimica.ufpr.br/paginas/lpq/a-quimica-da-agua-sanitaria/. Acesso em: 29 de março de 2023.

 

 

Related Post

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Twitter
Blog UFABC Divulga Ciência