Flores para comer, decorar ou presentear? (V.5, N.7 P.1, 2022)

Tempo estimado de leitura: 7 minute(s)

Autora: Flávia Martho Landinho

 

Talvez, quando você pensa em flores você logo imagina um buquê de flores ou flores coloridas que enfeitam casas, escritórios ou qualquer outro ambiente. Dificilmente você pensará em flores comestíveis decorando pratos doces e salgados, acertei? Algumas flores como o brócolis e a couve-flor são mais conhecidas por estarem frequentemente presentes na dieta do dia a dia, porém outras flores como a flor de jambu, flor de hibisco e da capuchinha são comestíveis mas são pouco conhecidas.  

Devido ao desconhecimento do uso das flores na alimentação, muitas delas são consideradas Plantas Alimentícias Não Convencionais, conhecidas pela sigla PANC.  As PANC são estudadas por vários pesquisadores, dentre eles tem o biólogo Valdely Kinupp que elaborou uma tese de doutorado sobre esse assunto. As PANC correspondem a partes das plantas como folhas, flores, frutos, sementes e raízes que podem ser consumidas na alimentação humana, porém são denominadas de “pragas” ou “erva-daninha”. As PANC podem ser nativas, exóticas, espontâneas ou cultivadas e podem possuir propriedades nutricionais e medicinais. Algumas PANC são mais consumidas em determinadas regiões e por isso não são consideradas PANC nessa região, como é o caso do Jambu (Spilanthes oleracea L) que é comum no Pará. Logo abaixo vamos conhecer mais sobre essa espécie! 

O hábito de consumir flores é mais comum em países da Europa, mas no Brasil as flores comestíveis têm chamado a atenção de chefs na gastronomia não apenas pela beleza das flores, mas também devido ao seu sabor e teor de nutrientes. Porém, saiba que nem toda flor é comestível pois algumas possuem propriedades tóxicas, por isso se você não sabe se a flor ou planta é comestível não consuma. Também não coma flores que você compra em qualquer floricultura pois pode conter agrotóxicos e fertilizantes químicos. 

 

Sem enrolação, vamos conhecer três flores comestíveis:

 

Jambu (Spilanthes oleracea L.) 

O Jambu é nativo da região amazônica e também pode ser conhecido como agrião-do-pará, agrião-do-norte, agrião-da-amazônia, entre outros. O jambu é um dos ingredientes de alguns pratos típicos da culinária regional brasileira como o pato no tucupi, o tacacá e o tambaqui no tucupi, sendo que as folhas, talos e flores podem ser consumidas. Quando as folhas e flores do jambu são mastigadas isso provoca uma sensação anestésica devido a presença de uma substância chamada espilantina. 

#ParaTodosVerem: Três fotográficas uma ao lado da outra com as identificações da esquerda para direita “A, B e C”. Nas imagens há as mesmas flores de jambu (flor amarela e pequena com folhas verde escuro) em ângulos diferentes.

Flores de Jambu. Fonte: retirado de Martins et al, 2012, p.413.

#ParaTodosVerem: Três fotográficas uma ao lado da outra com as identificações da esquerda para direita “A, B e C”. Nas imagens há as mesmas flores de jambu (flor amarela e pequena com folhas verde escuro) em ângulos diferentes.

 

Hibisco (Hibiscus rosa-sinensis L.) 

Existem diversas plantas do gênero Hibiscus, mas aqui o destaque vai para a espécie Hibiscus rosa-sinensis L. que possui uma ampla variedade de flores coloridas. As pétalas das flores possuem um leve gosto cítrico sendo muito comum seu uso em saladas. Essa espécie é popularmente conhecida como hibisco-da-china e mimo-de-vênus e a maioria das flores é fonte de vitamina A e vitamina E. 

#ParaTodosVerem Fotografia de duas flores de hibisco vermelho. Atrás das flores há as folhagens verde escuro.

Flor de hibisco. Fonte: retirado de Silva, Wiest e Carvalho, 2016, p.3 

#ParaTodosVerem Fotografia de duas flores de hibisco vermelho. Atrás das flores há as folhagens verde escuro.

 

Capuchinha (Tropaeolum majus L.)

A capuchinha é uma das precursoras na utilização das flores na alimentação. O nome capuchinha é devido ao formato das flores que lembra um capucho (chapéu em bico). A capuchinha possui um sabor picante e não apenas as flores são consumidas, mas também às folhas e os frutos sendo que os frutos se assemelham as alcaparras. A capuchinha é utilizada em saladas, refogados e omeletes e é rica em vitamina C e luteína. As flores da capuchinha possuem uma diversidade de cores como alaranjadas, amarelas e vermelhas. 

 

#ParaTodosVerem: três fotografias uma do lado da outra na horizontal. Há varias Flores da Capuchinha em cada foto, porém, em cada uma, uma cor diferente. Sendo, da esquerda para direita vermelho, laranja e amarelo. O fundo é branco.Flores da Capuchinha. Fonte: retirado de SOUZA et al, 2020, p.79.

#ParaTodosVerem: três fotografias uma do lado da outra na horizontal. Há varias Flores da Capuchinha em cada foto, porém, em cada uma, uma cor diferente. Sendo, da esquerda para direita vermelho, laranja e amarelo. O fundo é branco.

 

As flores comestíveis possuem uma diversidade de cores, sabores, tamanhos, aromas e nutrientes. Porém, como já comentado antes de introduzir as flores na sua alimentação é preciso saber se a planta é realmente comestível, pois pode causar reações alérgicas. A intoxicação com plantas no Brasil é muito comum e as principais vítimas são crianças na faixa etária de 0 a 14 anos. 

O hábito de consumir flores não é algo recente, pois esse costume já estava presente desde a antiguidade. Desse modo, o consumo das PANC permite valorizar a biodiversidade  alimentar, pois a alimentação humana é baseada em poucas espécies vegetais. Que tal degustar alguns desses sabores? Porém não esqueça que a diversidade alimentar no prato precisa ocorrer com responsabilidade para evitar casos de intoxicação. O livro de Valdely Kinupp e Harri Lorenzi chamado “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas” é um bom material para verificar as espécies que são comestíveis. 

 

 

Referências 

AGUIAR, A.T.C.; JÚNIOR, V.F.V. O jardim venenoso: a química por trás das intoxicações domésticas por plantas ornamentais. Química nova, v.44, n.8, p.1093-1100,2021. 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à saúde, Departamento de Atenção Básica- 2.ed.-Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 

FRANZEN, F.L.; RICHARDS, N.S.P.S.; OLIVEIRA, M.S.R.; BACKES, F.A.A.L.; MENEGAES, J.F.; ZAGO, A.P. Caracterização e qualidade nutricional de pétalas de flores ornamentais. Acta Iguazu, v.5, n.9. p.58-70, 2016. 

KINUPP, V.F. Plantas alimentícias não convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. Tese (doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 590,2007. 

MARTINS, C.P.S.; MELO, M.T.P.; HONÓRIO, I.C.G.; D’AVILA, V.A.; CARVALHO JÚNIOR, W.G.O. Caracterização morfológica e agronômica de acessos de jambu (Spilanthes oleracea L.) nas condições do Norte de Minas Gerais. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.14, n.2, p.410-413,2012. 

SILVA, A.B.; WIEST, J.M.; CARVALHO, H.H.C.C. Compostos químicos e atividade antioxidante analisados em Hibiscus rosa-sinensis L. (mimo-de-vênus) e Hibiscus syriacus L. (hibisco-da-síria). Brazilian Journal of Food Technology, v.19, p.1-9,2016. 

SOUZA, H.A.; NASCIMENTO, A.L.A.A.; STRINGHETA, P.C.; BARROS, F.A.R. Capacidade antioxidante de flores de capuchinha (Tropaeolum majus L.). Revista ponto de vista, n.9, v.1, p.73- 84, 2020. 

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