Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar (V.4, N.10, P.2, 2021)

Tempo estimado de leitura: 6 minute(s)

Divulgadora da Ciência:

Laura Arães – laura.araes@aluno.ufabc.edu.br

 

Em 21 de setembro é comemorado o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência (PcD), a data foi criada para dar visibilidade a essa comunidade e para que sejam repensadas as nossas práticas e políticas, enquanto indivíduos e enquanto sociedade.

 

Há, no entanto, um grande problema, parte das pessoas e  instituições pensam que para tornar ambientes acessíveis basta a construção de rampas, mas não é bem assim. Para Romeu Sassaki (2009), considerado “pai da inclusão” no Brasil, existem seis tipos de acessibilidade: 

 

  • Acessibilidade arquitetônica:  diz a respeito ao acesso aos ambientes físicos necessários para a participação plena e efetiva na sociedade sem barreiras na infraestrutura, que por sua vez vão muito além da construção de rampas, por exemplo: portas largas, sanitários espaçosos, torneiras acessíveis, boa iluminação, boa ventilação, mobília ergonomicamente acessível, entre outros.

 

  • Acessibilidade comunicacional: sobre as diferentes maneiras de expressão e transmissão de informação, seja na comunicação face-a-face, na escrita, na contratação de intérpretes da língua de sinais, entre outros.

 

  • Acessibilidade metodológica: relacionada a instruções baseadas nas inteligências múltiplas e novos conceitos de aprendizagem.

 

  • Acessibilidade instrumental: aplicada a adequação de aparelhos e equipamentos tecnológicos ou analógicos no seu uso cotidiano: ferramentas, máquinas, lápis, caneta, computador etc.

 

  • Acessibilidade programática: coligada a eliminação das barreiras invisíveis em textos normativos, como políticas e manuais.

 

  • Acessibilidade atitudinal: relacionada a eliminação de preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, promovendo atividades de sensibilização, conscientização e convivência.

 

Pode parecer complexo querer aplicar todos esses tipos de acessibilidade, e muitas vezes não sabemos nem mesmo por onde começar. Por isso, a regra base para qualquer boa relação e inclusão de Pessoas com Deficiência é perguntar a elas quais são as suas necessidades na hora de pensar acessibilidade, isso porque, pessoas com uma mesma deficiência podem precisar de diferentes condições. Por exemplo, uma pessoa com deficiência auditiva, pode ser oralizada e compreender o mundo através da leitura labial, ou não, e se comunicar exclusivamente através da língua de sinais, por isso, não é possível generalizar, cada pessoa é um diferente caso.

 

É importante mencionar que o acesso de alunos com deficiência está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) ,que por sua vez visa garantir que essas pessoas tenham as mesmas condições de socialização e desenvolvimento de habilidades cognitivas e competências socioemocionais que outros alunos. 

 

Portanto, nesse texto, estão listadas algumas práticas que você pode começar a implementar em suas relações sociais ou  ambiente educacional que tornarão mais inclusiva. Veja: 

 

  • Em apresentações de slide, ou textos impressos, utilize letras ampliadas para que seja legível para quem tem baixa visão;

 

  • Dê preferência a plataformas de videoconferência que tenham recursos de tecnologias assistivas: leitores de tela, geração de legenda automática. Sendo nesse caso, a plataforma que se mostrou mais efetiva até o momento no Brasil, a plataforma Google Meet;

 

  • Faça uma auto descrição detalhada ao se apresentar (comente sobre sua aparência, vestimenta e outras características pessoais) e descreva slides e imagens caso haja um ouvinte com deficiência visual a. Lembre-se que quanto mais detalhada for a sua descrição, mais a pessoa poderá acompanhar e sentir-se inclusa no assunto. Se possível, faça o mesmo nas redes sociais e utilize a hashtag “#Paratodosverem”;

 

  • Se houver uma pessoa com deficiência auditiva habituada com leitura labial, garanta que você estará posicionada de forma favorável para que ela compreenda o que você está dizendo;

 

  • Se tiver oportunidade, aprenda noções básicas da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para se comunicar com pessoas surdas;

 

  • Esteja atento para as “deficiências invisíveis”, muitas vezes por não vislumbrarmos uma deficiência de forma visual/ explícita, não nos atentamos a necessidade de adaptação que essa pessoa pode precisar. Mas lembre-se de ser respeitoso e demonstrar ajuda apenas nas situações em que for solicitado.

 

  • Desconstrua seus vieses capacitistas. De forma errônea, muitas vezes as pessoas relacionam deficiência com ineficiência, e por isso subestimam ou infantilizam PcDs pensando que elas não são capazes de cumprir tarefas, além de não estimular a autonomia e independência dessas pessoas, isso pode ofender alguém “por melhor que sejam as suas intenções”. Demonstre suporte quando for mencionado. 

 

  • Em caso de pessoas  com o transtorno do espectro autista (TEA), minimize a quantidade de estímulos: sejam eles visuais, de texturas, cheiros ou sons nos ambientes, pois pode desconcentrá-los, ou até mesmo causar uma irritação; Permita o uso de fone de ouvido isolador ou minimizador de ruído em momentos de stress; Priorize paredes de cor neutra; Dê preferência para lâmpadas incandescentes ao invés das fluorescentes que piscam e podem fazer um ruído.

 

  • Adapte os instrumentos de avaliação pensando no ritmo individual de cada pessoa, atribuindo um tempo ou forma de execução distintos.

 

  • Legende vídeos, ou garanta que há ferramentas que possam fazer isso, o Youtube por exemplo, possui geração automática de legendas. 

 

Há uma frase de Vernā Myers, VP de Inclusão na Netflix que diz: “Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar!”. E aí fica a reflexão, no seu cotidiano você chama as pessoas para dançarem com você?

 

Fonte:
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional de Reabilitação (Reação), São Paulo, Ano XII, mar./abr. 2009, p. 10-16

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