Tratamento precoce para covid-19: o que a ciência explica? – Parte I (V.4, N.6, P.15, 2021)

Tempo estimado de leitura: 6 minute(s)

Divulgadora da Ciência:

Érika Klann, mestre em Biologia Parasitária pela Fundação Oswaldo Cruz; Bióloga – Bacharel em Genética e Licenciada em Ciências Biológicas, ambos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Virologia, Biologia Molecular e Biologia celular. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Ciências (NEPEC) da UFABC. [Lattes]

 

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a internet vem sendo bombardeada com inúmeras informações sobre possíveis medicamentos caseiros e fármacos para auxiliar na prevenção e tratamento à Covid-19. Porém, muitas vezes as mensagens trocadas em redes sociais e pelo whatsapp compartilham informações incorretas ou pouco esclarecedoras… Por isso, nesta série de textos, a pesquisadora Érika Klann nos traz informações muito valiosas sobre o tratamento precoce e como de fato ocorrem os testes com os medicamentos antes de serem disponibilizados à população. Nesta primeira parte a divulgadora nos explicará como a ciência analisa e adverte sobre o tratamento precoce para Covid-19.

 

Diante de uma pandemia e seu número crescente de casos, internações e mortes, causada por uma doença até então desconhecida, é natural que a comunidade científica mundial recorra aos mais diversos tratamentos para curar as pessoas e controlar a crise sanitária.

 

Não foi diferente com a Peste Negra, no século XIV, ou com a Gripe Espanhola, em 1918, onde não faltaram indicações de terapias milagrosas na tentativa de reverter o quadro pandêmico destas doenças que levou à morte milhões de pessoas no mundo todo.

 

E dentro do cenário de incertezas e explosão de novos casos de Covid-19, ainda temos, mesmo após mais de 1 ano de pandemia, a discussão sobre a indicação e uso de um tratamento precoce ou, como chamado aqui no Brasil, do “kit covid”.

 

No início da pandemia, parte da comunidade científica, de médicos e até das instituições reguladoras mundiais defenderam o uso de diversos medicamentos, já conhecidos para o tratamento de outras doenças, para combater o coronavírus e curar a Covid-19.

 

Claro que seria mais do que oportuno e esperançoso encontrar uma medicação eficaz no controle da doença, mas diversos estudos científicos rigorosos ao redor do mundo não conseguiram ainda comprovar a eficácia desses medicamentos, juntos ou combinados; ao contrário, se mostraram até prejudiciais quando administrados nos quadros leves, moderados ou graves da doença.

 

Nos últimos meses, as principais entidades de saúde nacionais e internacionais, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Organização Mundial da Saúde (OMS), os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), após uma falta de evidências científicas, se posicionaram contra a indicação de um tratamento precoce através do uso do coquetel de medicamentos – o kit covid – incluindo hidroxicloroquina (ou a cloroquina), azitromicina, ivermectina e nitazoxanida.

 

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) foi um dos primeiros órgãos a adotar uma postura firme contra o tratamento precoce, enfatizando as poucas evidências científicas sobre os benefícios das medicações utilizadas no kit covid. Em 19 de janeiro deste ano, publicou: “As melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no ‘tratamento precoce’ para a covid-19 até o presente momento”. A Associação Médica Brasileira (AMB) reforça esse discurso.

 

Inúmeras pesquisas nesse campo continuam sendo realizadas, mas, até o momento, não há tratamento medicamentoso que comprovadamente previna ou cure a Covid-19, principalmente aqueles oferecidos nas fases iniciais da doença.

 

Mas antes de conversarmos melhor sobre esse assunto, vamos definir o que é esse tratamento precoce, e que é muito diferente de atendimento precoce. Este último refere-se a uma análise dos sintomas desde os primeiros sinais, com um acompanhamento da evolução da doença e possível intervenção medicamentosa ou de internação, se necessário.

 

Um tratamento precoce tem a finalidade de diminuir as chances de desenvolver as formas mais graves da doença. No caso da Covid-19, esse tratamento que está sendo chamado de precoce se dá através do uso de um coquetel de alguns medicamentos que, no início da pandemia, acreditou-se intervir no curso da doença quando administrado logo nos primeiros sintomas ou quando, mesmo com ausência de sintomas, a pessoa tivesse contato próximo com algum caso comprovadamente positivo. Alguns desses medicamentos são utilizados, inclusive, como preventivos.

 

É importante entendermos como surge um novo medicamento ou como reaproveitamos os que já existem. Vou tentar explicar de forma simplificada.

 

Normalmente, o início de tudo começa com a chamada pesquisa básica, onde cientistas pesquisam moléculas ou compostos, suas características e potenciais de uso farmacológico/terapêutico. Estas substâncias são, então, testadas em laboratórios, em diferentes tipos de células e em diferentes concentrações. Se alguns desses compostos corresponder às expectativas de ação dentro de um sistema biológico simples, passam, então, para os testes em cobaias animais, como camundongos, coelhos, macacos ou outros animais que apresentem características semelhantes ao ser humano (fase pré-clínica). Tendo os cientistas bons resultados, o composto passa para a fase de testes clínicos, onde a testagem será em humanos, como explicaremos mais detalhadamente na segunda parte da publicação.

 

LINK DE PUBLICAÇÃO ORIGINAL:

https://40emais.com.br/tratamento-precoce-para-covid-19-o-que-a-ciencia-explica/

 

 

Gostaria de fazer a referência desse texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja como a seguir:

KLANN, Érika. Tratamento precoce para covid-19: o que a ciência explica? (V.4, N.6, P.XXX, 2021). Blog UFABC Divulga Ciência, ISSN 2596-0695. Disponível em:

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