Atenção aos alimentos não seguros e à COVID-19 (V.4, N.2, P.12, 2021)
Tempo estimado de leitura: 4 minute(s)
A preocupação com a superlotação em hospitais, causada pela COVID-19, deve ser acompanhada por outros cuidados neste momento, como as doenças transmitidas por alimentos (DTA). No Brasil, os surtos de DTA acontecem principalmente nas residências (37,7%), com a incriminação da água (28,41%) e dos alimentos mistos (19,35%); ex.: pizza, risoto, e carne ao molho1.
Além da contaminação por bactérias, as DTA podem ser causadas pela ingestão de alimentos com substâncias químicas tóxicas, comuns em produtos falsificados ou adulterados. Recentemente, países da Europa identificaram a presença, não autorizada, de óxido de etileno em sementes de gergelim da Índia. O óxido de etileno é um carcinógeno e o seu uso como pesticida em produtos naturais é proibido pela regulamentação da União Europeia2. Existem diversos casos graves, como a adição de cromato de chumbo ao açafrão3, e a substituição do anis-estrelado (Illicium verum) por outra espécie similar morfologicamente e tóxica, o anis-estrelado japonês (I. anisatum)4. Casos frequentes de fraudes com danos econômicos também são identificados em fiscalizações, como os azeites adulterados e as impurezas acima dos limites em alguns cafés5.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, quase um a cada dez indivíduos no mundo adoecem após a ingestão de alimentos contaminados, com 420 mil mortes a cada ano. As crianças menores de 5 representam 40% dos casos, com 125 mil mortes por ano. As DTA são responsáveis pela sobrecarga dos sistemas de saúde e impedem o desenvolvimento socioeconômico, prejudicando o turismo e o comércio. Neste momento de fragilidade causada pela pandemia de COVID-19, precisamos evitar aglomerações e redobrar os cuidados com os alimentos para preservarmos a nossa saúde e os serviços de saúde.
Os alimentos podem ser contaminados ou adulterados em diferentes etapas da cadeia, e todos somos responsáveis por sua segurança. Apesar da aparente vantagem econômica dos produtos falsificados, estes podem causar graves intoxicações e prejudicar a economia e o turismo, fundamentais para a recuperação do Brasil. Em caso de suspeita de DTA, consulte um médico ou procure um serviço de saúde; e lembre-se de informar o caso à Anvisa (Nutrivigilância). Para mais informações sobre a qualidade e a segurança dos alimentos, acesse o Guia Alimentar para a População Brasileira e o Guia “Inocuidad de los alimentos: un asunto de todos” coproduzido pela FAO e pela OMS.
Referências
Brasil, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. Informe semanal sarampo – Brasil, semanas epidemiológicas 1 a 30, 2020. Secretaria de Vigilância em Saúde. Volume 51 | Nº 32 | Ago. 2020. Acesso em: 28.11.2020. Disponível em: <https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/August/17/Boletim-epidemiologico-SVS-32.pdf>
Mendonça, V. Alerta: óxido de etileno em sementes de gergelim – o que podemos aprender com este caso? Food Safety Brasil. Acesso em: 28.11.2020. Disponível em: <https://foodsafetybrazil.org/alerta-oxido-de-etileno-em-sementes-de-gergelim-o-que-podemos-aprender-com-este-caso/>.
Jordan, R. Stanford researchers find lead in turmeric. Stanford News Service. September 24, 2019. Acesso em: 28.11.2020. Disponível em: <https://news.stanford.edu/press/view/30218>.
Casanova Cuenca M, Calzado Agrasot MÁ, Mir Pegueroles C, Esteban Cantó V. Persisten las intoxicaciones por anís estrellado, ¿estamos dando la suficiente información? Neurología. 2019;34:211–213.
Milhorance, F. Não é só com carne: leite com ureia e óleo em vez de azeite estão entre fraudes de alimentos no Brasil. BBC Brasil. 21 março 2017. Acesso em: 28.11.2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39325884>.