E após a tormentosa travessia pela pandemia de Coronavírus? (V.3, N.4, P.4, 2020)

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     Como as cidades brasileiras devem ou poderiam se organizar para enfrentar o período dos próximos meses e anos? Como podemos projetar os períodos futuros e nos preparar para eles, após a passagem do Coronavírus entre nós, considerando que alguns sistemas, modos de vida e organizações devem retornar como funcionavam antes e, em alguns casos, outras mudanças tendem a tornar-se irreversíveis?

     Precisaremos de governantes focados e preparados para investir fortemente na esfera pública, pelo menos nos setores de saúde pública, educação pública, ciência e tecnologia, assistência social, habitação social, saneamento ambiental e trabalho. Hoje, com presença de governantes marcadamente ultraneoliberais em diferentes níveis – desde o federal, passando pelos estaduais e municipais -, mostra-se ainda mais despreparado para o momento.

     A era que se abrirá, provavelmente, será forjada a partir da dor e do sofrimento de muita gente vulnerável, e deverá contar com protagonismo considerável dos trabalhadores e instituições sanitárias públicas, de iniciativas autonomistas, autogestionárias, ativistas, voluntárias, associadas às políticas e programas governamentais ordinários e emergenciais.

     Universidades, fundações, movimentos sociais, coletivos, ONGs e empresas deverão superar diferenças de suas perspectivas de atuação para cooperar e trabalhar juntos no processo de salvar vidas, reorganizando os sistemas existentes e refletindo sobre os paradigmas que deverão presidir as formas de organização e estruturação que emergirão.

     Os princípios da precaução, da interdependência, da equidade, da dignidade humana e de profundo respeito ao sofrimento alheio, precisarão ser ressignificados, (e, em alguns casos, ressuscitados), no alvorecer das novas configurações que precisarão ser discutidas, desenhadas e reconstruídas.

     Enfrentar a contradição das quarentenas forçadas (para os que têm o privilégio de realizá-las) em que se volta ao espaço doméstico, famílias privilegiadas se reencontram, no espaço onde, pode-se ver ampliado o tempo para repensar, reelaborar e redimensionar quase tudo – sob a sombra do medo ou do pânico. Nas periferias urbanas e territórios historicamente abandonados pelo Estado, uma imensa multidão estará privada de pensar e de praticar o necessário e recomendado isolamento social.

     Com uma realidade dessas, a universidade pública, ancorada no tripé “ensino-extensão-pesquisa”, mais do que nunca, é convocada a contribuir com as demandas prioritárias e urgentes da sociedade, com estudos, diagnósticos, análises, modelagens e projetos, formulação de propostas – para que possamos, juntos, salvar, suportar, superar e reconstruir tudo o que for possível, durante e após a tormentosa travessia.

 

 

Francisco Comaru

Professor Associado da Universidade Federal do ABC

Coordenador Laboratório Justiça Territorial

Integrante da Rede BR Cidades

 

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