Joaninhas são besouros? O que e por quê? (V.1, N.6, P.1, 2018)

Tempo estimado de leitura: 4 minute(s)

Vinicius S. Ferreira, Montana State University, MT, Bozeman, USA

 

Há relativamente pouco tempo, cerca de 10 anos atrás, comecei minha jornada acadêmica estudando e me especializando em besouros. Como todo bom convertido a coleopterologia (subárea da entomologia – área que estuda os insetos – responsável pelo estudo de besouros) tenho a tendência de monopolizar as rodas de conversas entre amigos e familiares, fazendo questão de sempre que [in]oportuno discutir peculiaridades e curiosidades relacionadas aos besouros.

 

Dentre as mais diversas reações que presencio, uma é definitivamente a mais comum de todas: a surpresa de que besouro não é só aquele bicho preto e grande, que as pessoas geralmente associam com escarabeídeos, muitas vezes mencionando o clássico rola-bosta, bastante comum na cultura popular, além de outros “besouros pretos”. A comoção e surpresa geral chegam ao ápice quando o representante máximo da fofura e carisma dentro dos grupos de insetos é revelado como pertencente ao grupo de besouros, e sim, estou falando das joaninhas. Joaninhas, juntamente com borboletas, são parte do nosso dia-a-dia, e além de nossos quintais são encontrados ilustrados e representados em livros de histórias infantis, joias, filmes e desenhos, cadernos e materiais escolares e no imaginário popular de crianças e adultos.

 

Joaninhas, como mencionado acima, possuem certas características únicas que as separam de outros grupos de insetos. Diferente da maioria dos insetos voadores, que quase sempre possui dois pares de asas especializados em voar (quase sempre, pois moscas e mosquitos só possuem um par de asas), besouros possuem o primeiro par de asas modificadas em um tipo de carapaça, mais ou menos como o casco de uma tartaruga, chamadas de élitro, e embaixo deste casco ficam o segundo par de asas, que é o que eles utilizam para voar. Além disso, quando olhamos para a cabeça de um besouro, outras combinações de características nos ajudam a diferenciar um besouro de outros insetos, como a presença de peças bucais especializadas em mastigação (enquanto que, em outros insetos, as peças bucais podem ser especializadas em sugar, perfurar, consumir néctar etc.) e cada uma das duas antenas, quase sempre, divididas em 11 partes, enquanto que na maioria dos insetos o número de partes das antenas é bastante variável (baratas, por exemplo, chegam a ter muito mais que 20). Some-se a essas características o fato de que besouros podem ser encontrados em quase todos os lugares do mundo, se alimentando de praticamente qualquer coisa, dá pra se ter uma ideia do quão abundantes, diferentes e comuns eles são, ainda que nunca prestemos tanta atenção a eles.

 

Ao panteão de ilustres besouros, mas nem sempre reconhecidos como, juntam-se os vaga-lumes, serra-paus, gorgulhos e carunchos, além de cerca de duas centenas de nomes científicos criados para separar os principais grupos de besouros conhecidos pelos cientistas. Com cerca de 380 mil espécies diferentes descritas de besouros, representando 25% das espécies conhecidas na Terra, saber o que diferencia um besouro de outros insetos e animais é um excelente começo, mas ainda temos um longo caminho para descobrir e aprender as diferenças de cada tipo de besouro.

 

Para saber mais

 

Beetles, Tree of Life project <http://tolweb.org/Coleoptera/8221> [em inglês]

 

Besouros <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/besouros.htm>

 

McKenna et al. 2016. The beetle tree of life reveals that Coleoptera survived end‐Permian mass extinction to diversify during the Cretaceous terrestrial revolution. https://doi.org/10.1111/syen.12132 [em inglês]

 

imagem destacada: https://www.pexels.com/photo/nature-red-dew-color-33544/. CC0 License

 

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2 Resultados

  1. Andy disse:

    Muito bacana !

  2. Muito legal o artigo! Interessante e desperta o interesse pelas ciências. Apoiamos este tipo de iniciativa. Parabéns! Att, Big Cérebro Brinquedos Educativos – https://www.bigcerebro.com.br

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