Fatores Econômicos e Climáticos Afetam a Segurança Alimentar (V.7, N.9, P.4, 2024)
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A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. A disponibilidade de quantidades suficientes de alimentos de qualidade, o acesso por parte de indivíduos, a estabilidade do fornecimento de alimentos, e utilização dos alimentos para compor uma dieta adequada, água potável, saneamento e cuidados de saúde para chegar a um estado de bem-estar nutricional são elementos de segurança alimentar.
Nesse sentido, é interessante pontuar como nutrição e consumo de proteína estão ligadas de tal modo que o aporte insuficiente de energia pode ser diretamente relacionado com ingestão insuficiente de proteínas. Estima-se que 16 a 28% da população de países em desenvolvimento estão consumindo energia insuficiente, onde, em média, apenas 10% dessa ingestão é consumida como proteína. Diversos estudos abordaram a influência de variáveis econômicas e sociais como importantes fatores no comportamento do mercado de carne bovina no Brasil.
O El Niño Oscilação Sul (ENOS) é um componente principal da variabilidade climática global conhecido por influenciar uma série de resultados sociais e econômicos, mas seus efeitos sistemáticos sobre a saúde humana permanecem pouco compreendidos.
A variabilidade climática é cada vez mais reconhecida como um determinante chave dos resultados de saúde e uma grande preocupação para a política climática global e para a saúde pública internacional. No entanto, os efeitos sistemáticos que essas variabilidades climáticas têm sobre a saúde permanecem pouco estudados.
Dado que o ENOS é um fenômeno com previsibilidade com meses de antecedência, é possível dissociar a insegurança alimentar e a nutrição humana desse processo climático.
O preço do boi acompanha a oscilação do câmbio BRL/USD, é intuitivo considerando que o preço do boi gordo é cotado em dólar, portanto influencia na decisão de venda pelo pecuarista. O que pode afetar a disponibilidade de carne, pois uma vez que a tomada de decisão se concentra no pecuarista, esse pode destinar a carne para o mercado interno ou externo, afetando os preços no varejo. Com a alta do dólar as exportações se tornam vantajosas em comparação com o mercado interno, com isso o mercado pressiona para o aumento dos preços domésticos.
Embora o consumo de carne no período seja crescente, apesar dos aumentos do IPCA e dos preços da carne, isso pode ser explicado devido ao aumento da renda média. O que é algo positivo em relação a políticas de inclusão promovidas pelos governos. Entretanto, observa-se que há um limite de preço onde o consumidor não está disposto a pagar, ou ainda, é determinante em relação a sua condição socioeconômica. Isso fica evidente com a queda no consumo observada a partir do ano de 2014, apesar do aumento da renda. Assim como aumento do consumo mais evidente durante quedas do IPCA como entre 2006 e 2008, e 2013 e 2014.
A relação entre a renda média e desnutrição, indica que ao aumentar a renda observa-se uma queda na prevalência desnutrição, assim como a taxa de anemia entre mulheres em idade reprodutiva e o atraso no crescimento de crianças até 5 anos de idade. Aliás, ao diminuir a taxa de anemia entre mulheres em idade reprodutiva, diminui-se a taxa de atraso no crescimento das crianças.
Resultados de modelo econométrico de regressão sugerem que o ENSO pode afetar a segurança alimentar e, consequentemente, a saúde nutricional das crianças, com o aumento do ENSO associado a um maior risco de atraso no crescimento das crianças. Essas descobertas destacam a importância de políticas e intervenções que visam mitigar os efeitos da variabilidade climática na segurança alimentar e nutricional das populações vulneráveis, especialmente durante os períodos de El Niño. Além disso, enfatizam a necessidade de monitoramento contínuo e adaptação das estratégias de saúde pública para enfrentar os desafios apresentados pela variabilidade climática e suas consequências para a saúde infantil e segurança alimentar, bem como, a necessidade de políticas econômicas que garantam a Segurança Alimentar.
A segurança alimentar é uma preocupação global que é impactada por fatores climáticos e socioeconômicos. As relações entre fatores climáticos e segurança alimentar e nutricional são complexas, e podem até mesmo afetar crianças em fase de desenvolvimento. O ENOS é um fenômeno climático previsível que pode impactar na disponibilidade de recursos alimentares e sua previsibilidade pode contribuir para a mitigação dos efeitos adversos da desnutrição em contextos climáticos variáveis.
Referências:
- Brasil. Lei Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 18 set. 2006.
- Slingenbergh, J. (2013). World Livestock 2013: changing disease landscapes. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO).
- Carleton, T. & Hsiang, S. Social and economic impacts of climate. Science 353, aad9837 (2016).
- Watts, N. et al. Health and climate change: policy responses to protect public health. Lancet 386, 1861–1914 (2015).
- Anttila-Hughes, J. K., Jina, A. S., & McCord, G. C. (2021). ENSO impacts child undernutrition in the global tropics. Nature communications, 12(1), 5785.