O que é inteligência artificial e quais os seus impactos na sociedade? (V.7, N.7, P.7, 2024)

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Divulgadoras e Divulgadores da Ciência: Brian da Silva Neves, Gabriel do Nascimento Silva e Pablo Augusto Tanfere Machado de Lima; editado e revisado pela Prof.ª Carla Rodrigues Almeida

 

No cenário contemporâneo, a rápida evolução da tecnologia tem gerado transformações profundas na forma como interagimos com o mundo e como as tarefas são executadas. A ascensão das “inteligências artificiais” (IAs) se destaca nesse panorama, com uma promessa de revolucionar ainda mais a maneira como as atividades são realizadas. O termo “inteligência artificial” não é novo. Criado em 1956, seu alcance e impacto têm se intensificado nas últimas décadas, instigando questões intrigantes sobre a natureza das IAs. O que é, realmente, uma inteligência artificial? Como ela funciona e como sua presença influenciará nossa sociedade e cotidiano? Este texto explora essas questões, tratando da origem das IAs, suas aplicações, benefícios e desafios para a humanidade. 

Por vezes, não percebemos as rápidas mudanças que vêm ocorrendo à nossa volta nas últimas décadas. Os telefones de disco, por exemplo, deram lugar aos celulares, que agora evoluíram para os smartphones, que se traduz do inglês como “celulares inteligentes”. Ao invés de pedir pizza por telefone, a tendência agora é usar aplicativos de entrega que tornam o processo ainda mais conveniente. Atendentes de telemarketing estão sendo substituídos por robôs que lidam com nossas consultas. E, olhando para o futuro, estamos nos preparando para uma nova era com a chegada iminente da inteligência artificial. 

É importante esclarecer que a inteligência artificial não é uma novidade no cenário digital; na verdade, tem raízes antigas. O termo foi criado em 1956 durante uma conferência seminal realizada na Dartmouth College, nos Estados Unidos. Alguns pioneiros da programação, como Alan Turing e John McCarthy, buscavam criar máquinas capazes de imitar a inteligência humana. Posteriormente, modelos matemáticos foram desenvolvidos com o objetivo de permitir que computadores realizassem tarefas complexas, assemelhando-se ao processo desenvolvido pela mente humana. Contudo, apenas com os avanços tecnológicos das últimas décadas o cenário de desenvolvimento passou a vislumbrar um futuro promissor para a IA. 

 

Mas afinal, o que realmente é a inteligência artificial? 

De acordo com o dicionário Aurélio, a inteligência artificial pode ser definida como um “Mecanismo, programa de computador, software ou qualquer outro artefato que, produzido artificialmente, exibe uma inteligência similar à inteligência humana”. Em outras palavras, a IA representa um sistema com a capacidade de interagir e executar tarefas equivalentes ou até mais complexas do que aquelas realizadas pelos seres humanos. Ela apresenta habilidades semelhantes às nossas na solução de problemas e na tomada de decisões.

No entanto, em contraste com seres humanos, as inteligências artificiais processam dados a uma velocidade muito superior e por isso são capazes de lidar com uma quantidade imensa de informações. É precisamente aqui que as IAs exibem uma vantagem incontestável. Com a habilidade de processar milhares de conjuntos de dados rapidamente, elas podem aprimorar suas habilidades em tarefas a um ponto que parece transcender as capacidades humanas. Elas podem realizar façanhas como escrever livros inteiros, criar obras de arte digitais e muito mais questão de segundos. 

 

Se as IAs processam informação melhor que nós, devemos nos preocupar?

A resposta varia de acordo com a perspectiva adotada. 

Primeiramente, examinemos os aspectos positivos que o avanço das inteligências artificiais trouxe. Graças à sua habilidade de analisar grandes volumes de dados em pouco tempo, a IA encontrou aplicação valiosa na análise de conjuntos de dados médicos, permitindo a detecção precoce de doenças, a previsão de diagnósticos e a personalização de tratamentos para pacientes individuais. Além disso, na área educacional, as IAs têm sido úteis ao adaptar o fluxo de ensino conforme o ritmo de aprendizado de cada aluno, otimizando o processo de aprendizagem. 

Nesse contexto de avanços tecnológicos, cientistas da USP estão criando robôs que se comportam como amigos, copiando ações humanas para ajudar em atividades diárias. Eles usam inteligência artificial para ensinar esses robôs a entender e apoiar indivíduos que enfrentam desafios de memória e emoções. A pesquisa também investigou os sentimentos das pessoas em relação a esses robôs, com o objetivo de criar parceiros tecnológicos para uma vida melhor. Embora a pandemia tenha adiado alguns testes, o avanço na criação desses robôs companheiros continua. Esse exemplo ilustra como a tecnologia, incluindo a inteligência artificial, está sendo aplicada em diferentes áreas para melhorar a qualidade de vida e a interação entre humanos e máquinas. 

Contudo, apesar dos benefícios trazidos pelas IAs, também surgiram problemas significativos na sociedade. Devido à capacidade de automatizar tarefas repetitivas e previsíveis, muitas empresas vêem nas IAs uma alternativa de mão de obra mais econômica, resultando na substituição de trabalhadores humanos. Essa tendência tem impactado diversos setores, como o de artes digitais, onde a chegada de IAs capazes de criar imagens digitais está afetando negativamente a indústria. 

Um exemplo concreto disso é o uso da inteligência artificial por empresas nos Estados Unidos, que resultou na perda de empregos para cerca de 3,9 mil funcionários em maio, de acordo com um relatório da Challenger, Gray & Christmas. Isso colocou a inteligência artificial como a sétima razão mais citada pelos empregadores para demissões. As demissões totais em maio aumentaram em 20% em relação ao mês anterior e quatro vezes em comparação com o mesmo período de 2022. Embora seja a primeira vez que a inteligência artificial seja apontada como motivo de demissão, há preocupações crescentes sobre seu potencial de afetar empregos, com 300 milhões de postos de trabalho em risco devido a essa tecnologia. 

É importante encontrar um equilíbrio entre os benefícios e os desafios que as IAs trazem para garantir que avanços tecnológicos sejam benéficos para a sociedade como um todo. Porém, por ser uma tecnologia que cresceu expansivamente nos últimos meses, não é fácil prever quais impactos ela irá trazer. Entretanto, uma coisa é certa, ela chegou para ficar e dificilmente o mundo voltará a ser o que era antes. 

 

O que é inteligência forte? Ela vai acabar com a humanidade? 

Até o momento, tudo o sabemos e vimos as IAs realizarem foram feitas por modelos ditos simples. Nessa área de estudos, uma inteligência artificial pode ser definida como fraca ou forte, de acordo com a capacidade de conseguir aprendizado. Por exemplo, atualmente existe uma IA chamada MidJourney, ela é capaz de criar artes digitais com qualidade de um artista experiente, porém ela não tem a menor ideia de como dirigir um carro. Este é um exemplo de IA fraca. 

Além disso, capacidade de processar muitas informações em alta velocidade não significa que erros serão erradicados. O pesquisador Atila Iamarino fez um vídeo recente onde ele conversa com o ChatGPT, uma IA capaz de criar textos, e obteve uma resposta absurda para uma questão absurda. Na “entrevista”, Atila pediu para o ChatGPT descrever a metamorfose de uma lesma, para o qual obteve a resposta: 

“A primeira etapa da metamorfose é a formação de uma concha. A concha começa a crescer na parte de trás da lesma e se enrola em espiral ao redor de seu corpo, protegendo-a dos predadores. Na segunda etapa, a lesma começa a crescer tentáculos e olhos. Os tentáculos são usados para sentir o ambiente ao redor e encontrar alimentos. Os olhos permitem que a lesma veja o mundo ao seu redor. Na terceira etapa, a lesma cresce e começa a se mover pelo mundo. À medida que a lesma cresce, ela continua a mudar e se desenvolver até se tornar um adulto completamente formado.” 

Primeiro, é necessário ressaltar que lesmas não fazem metamorfose! A inteligência artificial não apenas errou a resposta, como também transmitiu com aparente convicção uma informação errada. Por mais que esses modelos sejam super aprimorados e dotados do que existe de mais recente no mundo da computação, ainda cometem erros nas principais tarefas que foram designados a realizar. 

Quando analisamos uma inteligência artificial forte, o cenário muda. Esse tipo de modelo consegue aprender e realizar inúmeras tarefas, tal qual os seres humanos. Pesquisadores prevêem que esta poderia até mesmo ultrapassar os humanos em capacidade cognitiva.

Alguns argumentam que, se um modelo de IA atingir esse nível, ela poderia se tornar autônoma e ter um impacto significativo na sociedade, incluindo a possibilidade de tomar decisões que afetem negativamente a humanidade. Este é um debate relevante que devemos ter, apesar de até o momento não termos conhecimento tecnológico para desenvolver um destes modelos. 

 

Qual a expectativa para o futuro? 

Inteligência artificial é uma ideia criada há mais de sessenta anos, mas apenas na última década ela ganhou tração, com um desenvolvimento tão incrível quanto o próprio conceito. Sua influência já começou a afetar nossas vidas, assim como outras inovações tecnológicas — algumas que já estão até ultrapassadas, como os celulares de botão. No entanto, prever seus impactos futuros é complexo. É importante aguardar enquanto nos mantemos bem informados, uma vez que as inteligências artificiais ainda podem nos oferecer muitos benefícios. 

 

Referência Bibliográfica 

 

Iamarino, Atila. Este vídeo não foi feito pelo ChatGPT. 

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zKO_plZ28t0. (Acessado em 21/08/2023) 

Géron, Aurélien. Mãos à obra: aprendizado de máquina com Scikit-Learn & TensorFlow. Rio de Janeiro: Alta Books (2021). 

Nicolelis, Miguel. Inteligência Artificial pode desenvolver consciência? (palestra) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cwlBtT5NPBw (Acessado em 21/08/2023) 

Segovia Spadini, Allan. O que é IA Generativa? GPT, ChatGPT e Midjourney. Curso do Alura. 

Disponível em: https://www.alura.com.br/artigos/inteligencia-artificial-ia-generativa-chatgpt-gpt-midjourney (Acessado em 21/08/2023)

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