5 Mitos Científicos do Senso Comum Brasileiro: Frases que se ouve desde pequeno no cotidiano (V.7, N.7, P.2, 2024)
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Mesmo com o avanço da ciência e um maior acesso à informação, algumas frases equivocadas ainda se propagam na sociedade. O senso comum carrega alguns conhecimentos que por vezes se mostram rasos ou mesmo incorretos sobre determinados assuntos, resultando em mitos difundidos por gerações.
Em algum momento da sua vida, talvez durante a infância, você se deparou com algum mito do senso comum através de familiares, amigos, ou até mesmo professores na escola. Trouxemos aqui alguns amplamente difundidos, cinco frases que se tornaram mitos científicos do senso comum na realidade brasileira, para desmistificá-los de forma leve e resumida.
1 – Petróleo é feito de fóssil de dinossauro.
Ligar petróleo aos dinossauros não parece algo errado, em um primeiro momento. Afinal ele é derivado de fósseis, certo?
De fato, ele é. No entanto, os fósseis que dão origem ao petróleo são outros organismos orgânicos como algas, vegetais e animais marinhos, em um processo lento de transformação que dura mais de 300 milhões de anos. Estes fósseis sofrem processos químicos específicos em cada era geológica, tipicamente depositados em rochas porosas e demais sedimentos, acumulando camadas e mais camadas abaixo do solo.
Mas onde entram os dinossauros?
Os dinossauros viveram por volta de 233 milhões de anos atrás na Terra e, numa época relativamente próxima da supracitada. Isso explica porque a ideia de que seus fósseis também deram origem ao petróleo explorado atualmente se popularizou. Porém, no petróleo brasileiro encontram-se vestígios de estromatólitos, que são rochas biossedimentares laminadas, formadas por atividade microbiana em ambientes aquáticos desde o pré-cambriano, anterior aos dinossauros.
Não há evidência de que o petróleo extraído hoje em dia tenha componentes que possam indicar a formação de um petróleo por meio da fossilização de dinossauros, portanto é falso dizer que o petróleo é feito de fóssil de dinossauro.
2 – Sair no frio sem casaco causa resfriado.
É fato que os períodos de menores temperaturas (mínimas e máximas), como no outono e no inverno, aumentam o número de casos de gripe, resfriados e outras doenças respiratórias, sendo inclusive incentivado a vacinação contra a gripe em pessoas idosas ou vulneráveis.
Apesar de ser algo esperado, a gripe e o resfriado não são causados pelo frio. Essas doenças são transmitidas pelas vias respiratórias e, no período mais frio, é comum que os ambientes onde as pessoas estão permaneça fechado, com nenhuma ou pouca ventilação, o que favorece a transmissão viral.
Um exemplo são os transportes públicos, que costumam estar lotados e com janelas fechadas para evitar a entrada do ar gelado nos dias mais frios. Contudo, cria-se um ambiente propício para a contaminação das pessoas, caso alguém esteja infectado. Portanto, o frio não é o responsável direto por causar infecção por gripe ou resfriado, apesar de ser verdade que ocorre um aumento nos casos de infecções no período mais frio do ano.
3 – A Evolução garante a sobrevivência do mais forte.
Quando se fala em evolução, muitas vezes ocorrem equívocos ou interpretações erradas a respeito da teoria. Falar que o mais forte automaticamente será o mais apto a sobreviver não está correto. Se o mais forte não é o mais apto a sobreviver, então o que a evolução garante?
A evolução ocorre quando há variabilidade genética, possibilitando mutações genéticas nos indivíduos que podem causar mudanças na capacidade de sobreviver ao meio e gerar descendentes, passando adiante a mutação. Caso essa mutação tenha vantagem evolutiva, eventualmente as gerações seguintes terão tal mutação.
Ser o mais forte não garante a propagação da mutação. Diversos fatores além das características do indivíduo, como o próprio meio, podem influenciar na sobrevivência de uma espécie. Força é apenas parte do processo evolutivo, em algumas espécies ser o mais forte pode garantir maior possibilidade de acesso a fontes energéticas e reprodução, contudo não é suficiente.
4 – Ingerir doces deixa as pessoas agitadas.
Quem nunca foi fazer uma prova e levou algum chocolate ou docinho para comer durante a avaliação? Muitas pessoas têm este comportamento devido a crença de que o alto índice glicêmico destes alimentos terão um efeito energético que irá ajudar a manter o foco e a atenção durante a prova. Mas, será mesmo?
De acordo com uma revisão sistemática de 31 estudos sobre o consumo dessa substância, publicada na Neuroscience and Biobehavioral Reviews, ao invés de mais alertas energizadas, o açúcar na verdade deixa as pessoas com menos atenção e mais cansadas.
Este estudo foi realizado por um grupo de pesquisadores que investigou o efeito do açúcar e suas respostas fisiológicas. Eles analisaram dados de 1.260 adultos mentalmente saudáveis e concluíram que o açúcar não oferece uma carga de energia momentânea. No entanto, é importante notar que a análise não incluiu indivíduos com distúrbios mentais significativos, o que pode impactar os resultados.
Vale lembrar que o consumo dessa substância deve ser moderado devido às consequências que esta pode trazer à saúde.
5 – Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Todo mundo já ouviu esse provérbio, não é mesmo? Mas será que é verdade? Seria Thor, o deus nórdico do trovão tão ruim de mira?
Brincadeiras à parte, sabe-se que um relâmpago ocorre quando há uma diferença de carga elétrica entre nuvens ou entre nuvens e o solo, resultando em uma descarga rápida de eletricidade que gera um flash de luz intensa e um som alto.
Mas então por quê um raio não pode cair no mesmo lugar? Na verdade, a ciência comprova que pode sim! E, dependendo do lugar, isso acontece relativamente com frequência. O artigo científico “A física dos relâmpagos” traz um exemplo aqui mesmo no Brasil. A estátua do Cristo Redentor, devido à sua localização e tamanho, é frequentemente atingida por raios, cerca de seis vezes ao ano.
É importante lembrar que os raios são fenômenos perigosos e imprevisíveis, e devemos sempre tomar precauções para nos protegermos durante tempestades elétricas.
Referências
OLIVEIRA, Jean Gomes. Esclarecendo um mito: Petróleo NÃO é feito de dinossauros. Saber Atualizado, 01 jun. 2023. Disponível em:
https://www.saberatualizado.com.br/2022/03/esclarecendo-um-mito-petroleo nao-e.html
Acesso em: 17 de Agosto de 2023.
DE MIRANDA, Marina Jorge. Análise temporal das internações por gripe e pneumonia associadas às variáveis meteorológicas no Município de São Paulo, SP. Revista do Instituto Geológico (Descontinuada), v. 37, n. 2, p. 61-71, 2016.
EL-HANI, Charbel Niño; MEYER, Diogo. A evolução da teoria darwiniana. ComCiência, n. 107, p. 0-0, 2009.
MANTANTZIS, Konstantinos, et al. Sugar rush or sugar crash? A meta-analysis of carbohydrate effects on mood. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 101, p. 45-67, 2019.
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