Logística Além dos 7 Mares: Os Cabos Submarinos que Conectam o Planeta Terra (V.5, N.2, P.2, 2022)

Tempo estimado de leitura: 7 minute(s)

Divulgadoras e Divulgadores da Ciência:

Júlio Francisco Blumetti Facó e Alexandre Acácio de Andrade – professores associados do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas e cofundadores do Fórum de Inovação e Competitividade Sustentável da UFABC.

Os 7 Mares nada mais eram do que os mares conhecidos à época dos gregos antigos: Egeu, Adriático, Mediterrâneo, Negro, Vermelho, Cáspio e o Golfo Pérsico. Nesse período da história, milênios atrás, uma notícia ou informação demorava muito tempo para chegar de um ponto a outro. Dependia de infraestrutura(navios) e pessoas para tais novidades serem ‘transportadas’. Um exemplo é a personagem épica Ulisses (dos poemas de Homero) que demorou 20 anos para retornar à Ítaca(Grécia) numa viagem repleta de infortúnios.
Atualmente as notícias navegam com muitíssimo mais velocidade, pelos mares e oceanos do mundo, em cabos submarinos. Mas ainda não estamos livres de infortúnios que ora afetam ou até interrompem tais comunicações. Um exemplo aconteceu em janeiro de 2022.

Quem precisa de Cabos Submarinos?

 

Imagem de satélite do momento da erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai no arquipélago de Tonga (Pacífico Sul) em 15/jan/2022. Fonte: UNICEF/NOAA

A importância dos cabos submarinos para as comunicações ficou clara após a erupção de um vulcão no Oceano Pacífico em 15 de janeiro de 2022.. A ilha principal de Tonga foi atingida por cinzas logo após a erupção além do impacto de vagalhões (tsunamis) na sua costa oeste. Os primeiros relatos davam conta de que 50.000 habitantes tinham sido afetados, número esse atualizado posteriormente para 85 mil pessoas. Horas depois, as linhas telefônicas e de internet de Tonga caíram deixando o arquipélago praticamente incomunicável. Efeito secundário da erupção que danificou o único cabo submarino que conectava Tonga ao mundo.

Ilustração do cabo submarino Tonga Cable que se rompeu em 15/jan/2022, de propriedade do Governo da ilha e que interliga Tonga à Fiji. Fonte: http://www.tongacable.net

Reparar cabos submarinos danificados não é uma tarefa fácil. Além de ser uma atividade cara pode levar semanas. Navios especialmente construídos para esse fim são necessários para içar os cabos do fundo do mar e realizar reparos na superfície, removendo a seção danificada e emendando o restante.

Onde Estão os Cabos Submarinos no Planeta Terra?

Existem mais de 400 cabos submarinos que percorrem 1,3 milhão de km – o que equivale a quase 33 voltas ao redor da Terra – e pertencem a centenas de empresas como TIM, Amazon, Google, Facebook entre outras.
Duas destas importantes ‘rodovias de informação’ estão no Oceano Atlântico (ligando Europa e América) e outra no Oceano Pacífico (ligando América e Ásia).

Mapa ilustrado dos cabos submarinos ao redor do Planeta Terra. Fonte: TeleGeography

No caso do Brasil, vários cabos chegam e partem de cidades litorâneas(que são pontos de interconexão terrestres). O principal ponto de destino e partida destas super vias de comunicação é Fortaleza. Pela sua posição geográfica estratégica, possui cabos que vão além da América do Norte, Central e costa do Pacífico na América do Sul (atravessando o Canal do Panamá); interliga-se também com Europa e África, conectando toda a costa brasileira até São Paulo(Santos e Praia Grande); alcançando por fim no Atlântico, o Uruguai(Punta del Leste) e a Argentina(Las Toninas).

Mas afinal o que são e como começou essa história de passar cabos pelo mar?

A internet que chega às nossas casas, nas escolas e nos trabalhos é resultado de um empreendimento colossal que teve início em meados do século 19. Centenas de milhares de metros de cabos submarinos foram instalados desde então nos 7 mares e além, para trocar dados, informação e riquezas por longas distâncias.

O primeiro cabo transatlântico de comunicações foi colocado em operação em 1858 e uma mensagem em código morse circulou por ele e foi mundialmente comemorada. Contudo o cabo se rompeu semanas depois e um novo só foi conectado com sucesso novamente em 1866. O idealizador desta iniciativa era o empreendedor norte-americano Cyrus West Field que contou com a ajuda de muitos engenheiros e cientistas no feito, entre eles, o cientista britânico Lord Kelvin, criador da escala absoluta de temperatura(escala kelvin).

Os primeiros cabos submarinos eram de cobre, como este instalado no século 19 para transmitir sinais telegráficos em código morse para operar o serviço de telégrafo, posteriormente evoluíram e ficaram mais longos, com uso de repetidores, para a telefonia que florescia no século 20. E, na era da internet, já na década de 1980, deram lugar aos cabos de fibra óptica que começavam a ser lançados nos oceanos.

Ilustração de como é um cabo submarino por dentro.

Os cabos submarinos, normalmente são assentados no leito dos mares. A sua colocação é feita com navios especializados, que lentamente desenrolam enormes bobinas de cabos que são lançadas ao fundo do oceano. Estes cabos contêm dezenas de pares de fibras ópticas com vários repetidores para amplificar seu sinal, em média a cada 100 km.

As fibras ópticas dentro dos cabos submarinos têm várias camadas de proteção (como aço, alumínio e polietileno). Mesmo assim, ocorrem danos. Normalmente causados pela ação da natureza e às vezes tubarões, outras vezes por âncoras de navios ou atividades de pesca em grande escala.

Atualmente, os cabos submarinos são as super-vias que mantém o nosso mundo multi-conectado funcionando. Eles são capazes de transmitir muito mais dados a um custo muito inferior do que os satélites. São cerca de 5.000 gigabits por segundo em cada fio de fibra óptica, o equivalente a mais de 100 filmes em altíssima definição por segundo. E cada cabo, por sua vez, contém dezenas de pares de fios de fibra para aumentar sua capacidade de transmissão. Hoje, essa logística submarina está por trás de quase tudo o que fazemos na internet ou com nossos telefones e smartphones.

Para mais informações:

CBS News: Notícia sobre a instalação de cabos submarinos super-velozes (em inglês). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QfpNpQMYp8M
Revista Exame: Facebook e Google criam seu próprio cabo submarino Disponível em: https://exame.com/tecnologia/facebook-google-cabo-submarino-6-paises/
Olhar Digital: Notícia sobre a instalação de cabo submarino em 2020 e 2021 interligando Brasil e Europa (em português). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1E37AvLLgC4
Mapa interativo com todos os cabos submarinos e seus pontos de interconexão terrestre (landing points ou pontos de ancoragem). Disponível em: https://www.submarinecablemap.com/

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