A pandemia da Covid-19 sob uma perspectiva filosófica e antropológica (V.3, N.4, P.7, 2020)

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Neste vídeo, os professores Daniel Pansarelli e Acácio Sidnei Almeida Santos dialogam sobre a pandemia e o contexto de isolamento social a partir de uma perspectiva interdisciplinar. A reflexão ocorreu a convite da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFABC.

A discussão se inicia tratando do instante em que mulheres e homens se deparam com a possibilidade concreta da morte, que se tornou muito presente em nossas casas a medida que as televisões nos bombardeiam com dados sobre as mortes causadas pelo vírus e com imagens de covas reservadas a essas pessoas, sem que seus familiares, ao menos, possam ter seus momentos de despedida.

 

Em seguida, os professores dialogam sobre o significado e as concepções da morte em nossa sociedade e apresentam alternativas cognitivas e práticas para as demandas que se iniciaram com a pandemia como, por exemplo, a possibilidade de funerais posteriores, aproximando-nos de antigas práticas de nossa e de outras culturas.

 

Adiante, levantam-se reflexões a respeito das consequências sociais da pandemia que elevam consideravelmente a sua periculosidade. É mencionada, por exemplo, a possibilidade de atos de revolta e violência contra pessoas contaminadas pela população próxima não contaminada em uma tentativa de manutenção do equilíbrio saudável daquele ambiente. Outro aspecto levantado como relevante para a elevação da periculosidade da pandemia é a real importância – ou falta de – que governantes vêm atribuindo à equidade social entre brasileiras e brasileiros.

 

Em um segundo momento, abordam-se questões relativas aos locais em que habitamos. O que significa estar em casa neste momento? O que entendemos ser nossa moradia?

 

Em relação a esse tópico, discutem-se o conceito de eterno retorno, descrito por Friedrich Nietzsche, que trata da ausência de vida presente nas rotinas das pessoas. Nesse contexto, as moradas acabam tornando-se locais assustadores, prisões para considerável parcela da população, uma consequência de o bem-estar não ser tomado como primazia nas rotinas e nas vidas, gerando uma certa “urgência de viver”, uma necessidade de aproveitar o momento como “deveria ser aproveitado”.

 

No terceiro e último momento, há uma discussão sobre as pandemias sociais, uma vez que elas atingem diferentes setores sociais de maneiras extremamente diferentes. É suscitado que conjuntos imensos de pessoas sofrem diariamente com diversos outros tipos de pandemias. No caso da Covid-19, as implicações sociais não se restringem à contaminação pela doença, mas estendem-se à contaminação pelo medo da morte, o que, assim como a doença, não possui solução imediata, uma vez que nossa sociedade não criou ferramentas culturais para lidar com este momento como outras sociedades o fizeram.

 

Somos, então, convidados a repensar o conceito de sociedade até então estabelecido, para que, ao menos, haja um menor delineamento e persistência destas divisões sociais por meio da revalorização do espaço público; para que a rua seja vista como um complemento do espaço de casa, e não como um oposto a este.

 

Por fim, os professores afirmam que tão importante quanto as medidas tomadas atualmente são as que serão realizadas após a passagem por essa pandemia e rogam para que as mobilizações continuem vivas após o novo Coronavírus, demandando soluções para muitas outras pandemias sociais existentes, em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da Universidade Pública, exigindo o fim da fome, dentre tantas outras.

Durante o diálogo, alguns livros foram citados e serão deixados como referências:

La férocité blanche, de Rosa Amelia Plumelle-Uribe

O Homem e a Morte, de Edgar Morin

La mort africaine, de Louis-Vincent Thomas

Sobre a Morte: invariantes culturais e práticas sociais , de Maurice Godelier

La mort akan, de Christiane Owusu-Sarpong

O Homem Diante Da Morte, de Philippe Ariès

Prof. Dr. Daniel Pansarelli é professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e dos cursos de graduação em Filosofia (bacharelado e licenciatura) e em Ciências e Humanidades (bacharelado) da UFABC. É filósofo, doutor em Educação, área Filosofia e Educação, pela FEUSP. Atua principalmente em temas relacionados a: ética e filosofia política; filosofia moderna e contemporânea; filosofia e educação; Filosofia Brasileira, Latino-americana e Africana.

 

Prof. Dr. Acácio Sidinei Almeida Santos  é professor no curso de Relações Internacionais (BRI/UFABC) da UFABC. Tem experiência nas áreas de Antropologia, Sociologia, Relações Internacionais e História da África; atuando principalmente nos seguintes temas: Antropologia das sociedades africanas, História da África, História da Costa do Marfim, Estudos africanos, Relações Brasil / África, Migração e Saúde, HIV/AIDS.

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