Sophie-Marie Germain: uma vida extraordinariamente matemática (V.8, N.10, P.04, 2025)
Estimated reading time: 14 minute(s)
No final do século XVIII, a França estava assolada pela turbulenta Revolução Francesa. O povo passava fome e estava cansado de ser explorado pelos altos impostos para sustentar a corte francesa.
Na Rua Saint-Denis, havia uma família que habitava uma casa que estava no meio desse caos e, para fugir desse ambiente hostil, uma das filhas dessa família refugiou-se na biblioteca da casa e encontrou conforto nos livros, inclusive nos de matemática.
Sophie-Marie Germain (1775 – 1831) tinha 13 anos quando começou a ter contato com a matemática através dos livros da biblioteca de sua casa e foi assim que teve início o seu amor pela matemática. Amor esse que duraria uma vida inteira.
O primeiro livro que teve contato foi uma biografia de Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.) na qual se aprofundou. Porém, por fazer parte de uma época que era incomum e não incentivado que as mulheres estudassem matemática em profundidade, os pais de Sophie tentaram diminuir a sua paixão pelos seus estudos matemáticos apagando o fogo da lareira e tirando as velas de seu quarto para que o frio e falta de luz convencessem a filha parar de estudar, mas para o espanto de seus pais, ela era imparável e isso os obrigou a aceitarem que Sophie continuasse a estudar e, dessa forma, ela seguiu estudando matemática de maneira autodidata.
Quando Sophie tinha 19 anos, em 1794, a França encontrava-se no fim do Reinado do Terror em 1794. Com o propósito de formar engenheiros civis e militares, foi inaugurada a École Centrale des Travaux Publics que, no ano seguinte, viria a ser chamada de École Polytechnique. Nesse lugar, havia professores de matemática famosos como Joseph Louis Lagrange (1736 – 1813) e, dessa forma, Sophie ficou desejosa de ingressar na École. Porém, a instituição não aceitava mulheres e a única forma que ela encontrou para estudar foi adotando uma identidade masculina que chamou de LeBlanc. LeBlanc realmente existiu, foi aluno de Lagrange, mas morreu jovem com 22 anos.
Assim, Sophie começou a estudar na École sob o pseudônimo de LeBlanc e apresentou um artigo com as suas observações de aula para Lagrange que ficou admirado e procurou conhecer o autor. Lagrange ficou surpreso ao descobrir que o estudante era, na verdade, uma mulher e, felizmente, decidiu ser seu tutor e a apresentou para matemáticos e cientistas que conhecia.

Em 1804, quando estava com 28 anos, Sophie começou a se corresponder com o matemático Gauss (1777 – 1855), usando novamente o pseudônimo de LeBlanc. As correspondências eram sobre a área da Teoria dos Números e duraram 5 anos.
Agora, era Napoleão Bonaparte que governava a França e estava invadindo vários países da Europa, destituindo suas monarquias e conquistando territórios. Gauss morava em uma área que estava prestes a ser invadida por Napoleão e, temendo o pior, Sophie pediu para que um amigo seu, o general Pernety, que inclusive liderava as tropas napoleônicas, protegesse Gauss.
Dessa forma, Gauss e sua família foram poupados, e achou estranho que uma mulher desconhecida chamada Sophie-Marie Germain havia salvo a sua vida… Foi então que Sophie se revelou através de uma correspondência ser LeBlanc e Gauss ficou surpreso e admirado por descobrir que o matemático que trocara tantas correspondências era, na verdade, uma matemática.

Nos anos seguintes, Sophie foi premiada duas vezes, sendo uma em 1816 por vencer um concurso proposto pela Academia Francesa de Ciências para “criar uma teoria matemática da vibração de uma superfície elástica e comparar a teoria com a evidência experimental” que a tornou uma matemática relevante entre os matemáticos da sua época, mas ainda continuava proibida de frequentar as sessões da Academia. Isso apenas mudou em 1823 com a intervenção do matemático Jean-Baptiste-Joseph Fourier (1768 – 1830) e, assim, ela se tornou a primeira mulher, sem ser esposa de algum membro, autorizada a frequentar as sessões.
Sophie passou a sua vida dedicada à vida científica e nunca se casou, vindo a falecer em 1831, aos 55 anos.
Referências
Biographies of Women Mathematicians. Disponível em: https://mathwomen.agnesscott.org/women/germain.htm. Acesso em: 12 out. 2025.
COSTA, Patrícia da Silva. Assis, Aline Mota de Mesquita. O movimento histórico da vida e obra de Marie-Sophie Germain. Revista De História Da Educação Matemática, v. 11, [s.l], pp. 1–19, 2025. https://doi.org/10.62246/HISTEMAT.2447-6447.2025.11.679. Disponível em: https://histemat.com.br/index.php/HISTEMAT/article/view/679. Acesso em 12 out. 2025.
VIANA, Marcelo. Francesa Sophie Germain usou pseudônimo masculino. IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada. Disponível em: https://impa.br/notices/na-folha-viana-conta-que-sophie-germain-usou-pseudonimo-masculino/. Acesso em 13 out. 2025.