A Importância de Fazer a Pergunta Certa: Ciência, IA e um certo Lorde Sith (V.8, N.7, P.12, 2025)

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Divulgador da Ciência: Annibal Hetem Junior 

A Importância de Fazer a Pergunta Certa: Ciência, IA e um certo Lorde Sith

O senador Sheev Palpatine como chanceler do Senado (do filme Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith, 2005, dirigido por George Lucas)

“Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante”

Em tempos onde todo mundo quer respostas rápidas, o verdadeiro poder está em saber fazer a pergunta certa. Isso vale para cientistas, engenheiros de IA e até senadores galácticos ingênuos que aplaudem o nascimento de um império com entusiasmo digno de um musical da Broadway. Não importa a dimensão — natural, digital ou interplanetária — quem domina a arte da pergunta, domina qualquer jogo.

No método científico, a pergunta é a semente de toda descoberta [1]. Mas não é qualquer pergunta. “Por que o céu é azul?” é uma dúvida legítima, mas pouco útil se você está tentando entender espectroscopia. Um cientista de verdade calibra suas perguntas como quem prepara um experimento delicado: com precisão cirúrgica e muita consciência do contexto. Uma pergunta vaga gera um resultado vago. A Nature não publica artigos com resultados inúteis.

Essa mesma lógica vem invadindo o universo das inteligências artificiais. Prompts — aquelas instruções que damos para que a IA entenda o que queremos — são hoje o novo “como você pergunta muda tudo”. Se você disser “explique a gravidade,” a IA vai te dar uma versão pálida do que já existe no Wikipédia. Mas peça “explique a gravidade como se eu fosse um gato curioso tentando entender por que as coisas caem da mesa,” e talvez você receba algo inesperado. Relevante e quase poético (caro leitor, se você tem intimidade com o ChatGPT, eu incentivo a testar a pergunta do gato curioso).

Isso exige algo que tanto cientistas quanto bons usuários de IA compartilham: clareza de propósito [2]. Saber o que se quer saber. E como se formula isso de forma que o outro lado — seja um microscópio ou um modelo de linguagem — possa responder com alguma dignidade. É uma arte de precisão, não de improviso. Afinal, mesmo a IA mais avançada ainda não lê pensamentos (por enquanto…).

E é aí que entra o nosso exemplo de mestre da pergunta estratégica: Sheev Palpatine, também conhecido como Darth Sidious. Criado por George Lucas, o Imperador Palpatine é a personificação do lado sombrio em Star Wars — um mestre manipulador que ascende ao poder corrompendo a República por dentro. Disfarçado de chanceler benevolente, ele engana até os Jedi, instaurando o Império Galáctico com frieza calculada. Sua ascensão é um estudo sobre poder, medo e discurso político.

Não foi com sabres de luz que Palpatine tomou o poder. Foi com uma série de perguntas muito bem colocadas em momentos muito bem calculados. Palpatine é o exemplo perfeito de como saber perguntar pode reescrever a história — ou exterminar a democracia com uma elegância que beira o teatral.

Ele não chegou ao Senado exigindo ser imperador. Sua proposta inicial era de estabilidade, segurança, paz. Como um cientista experiente, ele criou o problema, sugeriu a solução, e então fez a pergunta com tom paternal: “Vocês confiam em mim para resolver isso?” Os senadores, num misto de medo e alívio, aplaudiram [3]. E como bons políticos, não leram as letras miúdas do novo regime autoritário. A pergunta foi feita no tom certo, na hora certa, com as palavras certas. É a precisão científica em ação.

É claro que Palpatine não seguiria todos os princípios do método científico — ele raramente lidava bem com revisões por pares, e suas amostras geralmente envolviam clones. Mas no quesito “hipótese bem planejada para um resultado previsível,” ele é um exemplo de eficiência sombria. E sim, em termos de prompt engineering, ele foi um mestre. Basta ver como cativou Anakin Skywalker: com sugestões sutis, perguntas provocativas, e promessas de conhecimento proibido.

O paralelo com ciência e IA pode parecer forçado, mas é revelador. Todas essas áreas dependem de um fator em comum: a intenção por trás da pergunta. Se você não sabe o que está procurando, qualquer resposta serve. E quando qualquer resposta serve, é fácil se perder — ou ser manipulado. Afinal, até o mais racional dos sistemas só pode responder àquilo que foi perguntado com clareza.

No fim das contas, fazer a pergunta certa é uma habilidade que transcende disciplinas — e até galáxias. Cientistas usam para descobrir verdades. Usuários de IA usam para extrair sentido de dados. Palpatine usou para tomar o controle do universo conhecido. Cada um com seus objetivos, mas todos com a mesma ferramenta: perguntas poderosas.

Portanto, da próxima vez que você for começar um experimento, conversar com uma IA ou tentar convencer um grupo a te dar poderes ilimitados, lembre-se: o futuro não pertence a quem responde. Pertence a quem sabe perguntar.

REFERENCIAS

[1] Borlik, Todd Andrew (2011), “‘More than Art’: Clockwork Automata, the Extemporizing Actor, and the Brazen Head in Friar Bacon and Friar Bungay”, The Automaton in English Renaissance Literature, Farnham: Ashgate Publishing, ISBN 978-0-7546-6865-7

[2] Krugman, Paul (1993). “How I Work”. The American Economist. 37 (2). Sage Publications, Inc.: 25–31. doi:10.1177/056943459303700204. ISSN 0569-4345. JSTOR 25603965.

[3] Star Wars: The Clone Wars Season 3: Secrets Revealed (DVD). Los Angeles, California: Warner Bros. Television. 2010.

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