Entre auroras boreais e cliques digitais: por que ensinar também é continuar aprendendo (V.8, N.7, P.7, 2025)
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Divulgadores da Ciência: Equipe EMBRACE UFABC (Allan Xavier, Carla Rodriguez, Carolina Carvalho, Denise Consonni, Geovane Sousa, João Sato, Júlio Facó, Michelle Sato e Paula Tiba).
#paratodosverem: A imagem gerada em parceria com a IA ChatGPT está dividida em dois cenários, do lado esquerdo a natureza do inverno europeu e do lado direito as cores e o calor tropical da América do Sul, ilustra os diferentes contextos e países participantes do EMBRACE, no caso representados pelas bandeiras dos países Finlândia, Portugal, Colômbia e Brasil. As pessoas representantes da diversidade das equipes participantes do projeto ocupam cada cenário e também o centro da imagem, abraçadas em uma roda em alusão ao acolhimento e a colaboração que embasa o projeto EMBRACE.
Imagine um mundo onde professores não são vistos como “repositórios ambulantes de conteúdo”, mas como navegadores de uma era em constante transformação. Um lugar onde ensinar exige mais do que lousa e giz — pede escuta, reinvenção e, quem diria, até um certo toque de design instrucional. Agora respire fundo, vista um casaco imaginário e viaje com a gente até a Finlândia, onde, ao contrário do que dizem sobre o frio congelar ideias, é exatamente o oposto que acontece.
Na terra das auroras boreais e dos cafés quentinhos com canela, ser professor é quase tão prestigiado quanto ser astronauta. Lá, não basta saber ensinar: é preciso estudar muito antes mesmo de colocar os pés em uma sala de aula. E depois? Continua estudando, refletindo, testando novas formas de encantar mentes jovens com o que há de mais significativo. Parece óbvio? Nem tanto. Em muitos lugares do mundo — e aqui no Brasil, inclusive — a formação do educador termina antes mesmo de sua jornada começar.
É aí que entra a provocação: quem cuida do aprendizado de quem ensina?
Talvez por isso Andreas Schleicher, idealizador do PISA e diretor da área de educação da OCDE, tenha cravado com precisão quase cirúrgica:
“A qualidade da educação de um país nunca será maior que a qualidade dos seus professores.”
E qualidade, como se sabe, não brota por decreto. Ela precisa ser cultivada — com tempo, apoio, escuta, reconhecimento e, claro, com oportunidades reais de desenvolvimento. A Finlândia entendeu isso décadas atrás. Ofereceu educação gratuita de ponta, políticas sociais de apoio às famílias e um sistema educacional que respeita o tempo de cada criança… e de cada educador.
Mas não é preciso estar cercado de renas para inovar. No hemisfério sul, onde a brisa quente mistura sotaques e esperanças, surge um movimento que olha para o futuro com os dois pés na sala de aula: o projeto EMBRACE.
Não é nome de música romântica, embora tenha ritmo, conexão e muita gente dançando junto. EMBRACE é um consórcio internacional que une instituições do Brasil, Colômbia e Europa, entre elas a UFABC, em torno de um objetivo ambicioso: criar ecossistemas de aprendizagem para um ensino superior mais significativo, inclusivo, colaborativo e… vivo.
Sob coordenação finlandesa (sim, eles de novo!), a iniciativa aposta em formação continuada, cursos abertos (os famosos MOOCs), internacionalização e uso estratégico de tecnologias. Tudo isso temperado com uma boa dose de escuta ativa, trabalho em rede e co-criação. Nada de copiar e colar soluções prontas do hemisfério norte — o projeto entende que cada universidade tem sua cultura, seus desafios, sua gente.
Na UFABC, docentes se tornaram desenvolvedores institucionais e experts, mergulharam em formações bilíngues, criaram cursos voltados a competências digitais e pedagógicas, e, o mais importante: passaram a ser multiplicadores de uma mentalidade que vê o digital não como ameaça, mas como ponte. Que entende que o professor do século XXI não é um super-herói solitário, mas parte de uma rede em constante movimento.
Entre encontros em Vitória, no Espírito Santo, reuniões em Hämeenlinna, na Finlândia, muito trabalho em grupo em Pereira, na Colômbia, e primeiros resultados no formato de MOOCs disponíveis em português, inglês e espanhol, o projeto EMBRACE vem semeando a ideia de que aprender — como educar — é um processo sem linha de chegada. É “abraço” mesmo: entre saberes, culturas, gerações e futuros possíveis.
Talvez a grande lição, vinda tanto das experiências nórdicas e europeias quanto latino-americanas, seja esta: o professor precisa de tempo para aprender. Tempo para experimentar. Tempo para errar. Tempo para respirar entre uma aula e outra e perguntar: “Como posso ensinar isso de forma mais significativa?”
E que bom que há projetos e iniciativas que respondem: “Vamos descobrir juntos?”
Para Saber Mais:
- Experiência de formação continuada docente da equipe UFABC e a elaboração de cursos MOOC no projeto EMBRACE disponível em: https://www.ufabc.edu.br/noticias/experiencia-de-formacao-continuada-docente-da-equipe-ufabc-e-a-elaboracao-de-cursos-mooc-no-projeto-embrace
- Blog Embrace Oficial: embrace.edu.co
- As lições dos países que tratam bem seus professores (BBC): https://www.bbc.com/portuguese/geral-45680063