O QUE É SAÚDE AMBIENTAL? (V.7, N.11, P.02, 2024)

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Divugadora da ciência: Victoria Kremer Alves Silva, estudante de Engenharia Ambiental e Urbana na UFABC.

O termo saúde ambiental é comumente associado a algum tipo de cuidado das árvores ou outro elemento da natureza, entretanto, se trata do estudo de como o ambiente, natural ou modificado, interage com o ser humano e influencia a saúde populacional. Para entender melhor, vamos explorar o significado do termo saúde para, por fim, definir o que é saúde ambiental e apresentar algumas das principais questões ambientais globais atuais.
O conceito de saúde (e de doença) não é uniforme em todo o mundo, varia conforme os aspectos social, econômico, político e cultural. Por exemplo, o consumo de bebidas fermentadas, como o kefir ou iogurte, é muito apreciado por algumas culturas, mas para outras pode ser visto com estranheza e associado ao risco de adquirir alguma doença. Na tribo Hamer, da Etiópia, as mulheres pedem para ser açoitadas como símbolo de amor e apoio a um homem de sua família, e as cicatrizes são motivo de orgulho e prova de devoção, enquanto para outras culturas (como a nossa, brasileira) isso é inimaginável.
Por muito tempo a humanidade viu a doença por uma concepção mágico-religiosa, associada ao pecado e enviada por um ser divino como punição ao pecador. Esse pensamento perdurou (e ainda perdura em várias culturas) por muito tempo, mas a ciência e a medicina foram evoluindo em paralelo. Houve descobertas essenciais para diagnosticar e tratar doenças, como a descoberta das bactérias – um marco da evolução humana, descoberta dos vírus e desenvolvimento da estatística, que colaborou para entender as particularidades das comunidades e como as condições ambientais afetam a saúde da população.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. Parece uma definição utópica e difícil de ser atingida, mas visa ser ampla para expressar o direito a uma vida plena, sem privações, e não apenas a ausência de doença. A organização também ressalta a importância de o governo prover saúde a população, e torná-la acessível a todos, independente das condições sociais e econômicas. De forma geral, a saúde da população é determinada por quatro fatores:
Fatores individuais: compreende a biologia humana, os fatores genéticos inerentes a cada indivíduo.
Fatores culturais: relacionado ao estilo de vida e hábitos diários, como dieta, atividade física, uso de entorpecentes, e todo e qualquer outro resultado de decisões que afetam a saúde.
Fatores sociais: inclui fatores como renda, ocupação, condições de habitação, serviços de saúde disponíveis.
Fatores ambientais: inclui o solo, a água, o ar, a moradia e o local de trabalho.
Nesse texto focaremos nos fatores ambientais. A saúde ambiental é a área que se dedica ao estudo e manejo dos fatores ambientais da saúde populacional, originados pela interação entre o homem e o meio ambiente, seja este natural ou antrópico, visando melhorar a qualidade de vida do ser humano, e condicionar um ambiente bom para as próximas gerações.
A saúde ambiental lida com as doenças associadas a água para consumo humano, ar, solo, contaminantes ambientais e substâncias químicas, desastres naturais, acidentes com produtos perigosos, fatores físicos e ambiente de trabalho. Para tal, o ministério da saúde possui a Secretaria de Vigilância em Saúde (inicialmente “vigilância ambiental da saúde”), que consiste em um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, para identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde (BRASIL, 2007).
Questões ambientais globais
As sociedades modernas, principalmente de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, vivenciam um período de mudanças socioambientais. Há tanto problemas gerados pela riqueza, quanto pela miséria, apesar de populações pobres sofrerem os impactos com maior intensidade. Um exemplo da complexidade das questões ambientais globais, é a fome e miséria. Para acabar com a fome e miséria não bastaria expandir o modelo econômico dos países ricos aos países pobres, porque o mundo não tem capacidade para que todas as pessoas vivam como os ricos. Para extinguir esse problema seria necessária uma formação econômico-social ecológica, ou seja, que a distribuição e consumo de riquezas se dê a partir da busca de equidade e da sustentabilidade. É importante que o sistema seja sustentável, para que as condições sejam adequadas também para as gerações futuras, em aspecto social, econômico e ambiental.
Abaixo, falaremos da poluição do ar e o efeito estufa e da crise de água, duas questões ambientais da atualidade.
Poluição do ar e o efeito estufa
As emissões de gases do efeito estufa (GEE) devido a atividades antropológicas, como a queima de combustíveis fosseis, a indústria, a agropecuária, entre outras fontes, contribuem para a contaminação do ar que respiramos e para a intensificação do efeito estufa, que aumenta a temperatura média da Terra e no intervalo de 100 anos poderá elevar o nível dos oceanos entre 20 centímetros e um metro. Com isso, até centenas de milhões de pessoas terão que viver como refugiados do meio ambiente e deixar suas próprias casas.
O VIGIAR: Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Qualidade do Ar, tem o objetivo de promover a saúde da população exposta aos fatores ambientais relacionados aos poluentes atmosféricos. O VIGIAR prioriza áreas com atividades que gerem poluição atmosférica e expõem a população a riscos.


Fonte: Ministério do Meio Ambiente, 2024.

Crise de água
As cidades estão crescendo rapidamente, assim como a população, e com isso a demanda por água para consumo humano aumenta. Além disso, as mudanças climáticas afetam o ciclo de chuva e secas, afetando a disponibilidade de água, sobretudo em algumas regiões. Se torna cada vez mais importante ter um sistema de gerenciamento de água de qualidade e funcional, para garantir abastecimento adequado a todos, com preço justo e não excludente.
O consumo de água contaminada está associado a diversas doenças, como diarreia, hepatite A, febre tifoide, entre outras, além de estar associado a mortalidade infantil. Vale lembrar que a contaminação não ocorre apenas pela água ingerida ao beber, mas também se utilizar água contaminada para outras atividades, como higienizar alimentos, limpar a casa, tomar banho, etc.


Fonte: WHO (World Health Organization), 2024.

O ministério da Saúde possui o VIGIAGUA: Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Qualidade da Água para Consumo Humano, que tem o objetivo de garantir à população o acesso à água nos padrões de qualidades estabelecidos pela legislação.

Referências bibliográficas:
Radicchi, A. L. A., Lemos, A. F., Severo, M., Barreto, R., & Ronconi, R. (2009). Saúde ambiental.
Scliar, Moacyr. História do conceito de saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. 2007, v. 17, n. 1 [Acessado 13 de Fevereiro de 2024].

Reels sobre a cultura Hamer: https://www.instagram.com/reel/C2m3MSVObwm/?igsh=NWc5bm9iYzM3ZzZt.

Para mais informações, acesse:
BRASIL. Ministério da Saúde. Disponível em: .
Organização Mundial da Saúde. Disponível em: https://www.who.int/.

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