Do it yourself (DIY) (V.6, N.1, P.7, 2023)

Tempo estimado de leitura: 5 minute(s)

Autor: José Machado Moita Neto (Pesquisador da UFDPar)

Contatos: whatsapp (+55 86 99921-0902) / e-mail (jose.machado.moita.neto@gmail.com)

 

Não existem motivos atualmente para pressupor que o leitor não tenha condições de acessar uma indicação de site na internet que pode colocar os fundamentos iniciais de uma conversa. Quanto a tradução do título fico tentado a usar a ambiguidade da língua aplicável ao contexto “faça você mesmo”; podendo significar, inclusive, coloque a expressão DIY em um tradutor online e descubra o significado. Posto isto, faço uma indicação de um site sobre o título do texto (https://blog.hotmart.com/pt-br/aprenda/o-que-e-diy) para que você conheça o tema pelo “lado A” da maravilha que ele representa.

 

O site indicado traz os aspectos positivos dessa tendência (“trend”) minimizando aspectos negativos ou omitindo informações “menores’ sobre o tema. A má qualidade das primeiras produções é dada como certa mas minimizada em seus aspectos emocionais ou econômicos. É omitido que essa fase inicial pode durar muito tempo, que é necessário um investimento financeiro nos cursos ofertados indicados pelo blog e que também exige materiais e equipamentos. Ou seja, antes de saber se você tem habilidade ou criatividade exigida para o ofício, já despendeu recursos. Além disso, tudo que é enfatizado é sobre a fase de produção. A distribuição é tida como etapa vencida e o consumo é tido como óbvio. Ambas etapas (distribuição/consumo) são mais complexas do que o suposto. Esse parágrafo fica sem sentido se você pulou a tarefa de ler o site indicado!!!

 

A lógica economicista do texto (no site indicado) não permite abordar, com maior profundidade, a vantagem não econômica da autoprodução. Empenhar-se em fazer algo seu, dentro de seus limites, gastando as próprias forças e seu tempo, mesmo que medíocre aos olhos dos outros (e próprio) traz uma alegria e uma convicção dos próprios limites e da valorização do trabalho braçal (ou manual). Como o nosso mundo é doente de tudo, eu poderia abreviar o texto desse parágrafo dizendo que é terapêutico. O risco da atividade malfeita é calculado e assumido pelo próprio beneficiado. Tudo muda quando se passa para uma relação comercial.

 

O DIY como tendência fez nascer outra tendência: ensinar a fazer. Hoje é possível aprender tudo ou quase tudo na internet. Já usei diversas vezes as instruções de algum produtor de conteúdo para resolver algum problema prático. O último que lembro foi trocar a bateria de um no-break. Os produtores de conteúdo são pagos por nossos “likes”, curtidas ou inscrições em seus canais. Somos o seu “gado” (rebanho). Isto dá visibilidade ao que fazem gratuitamente e, posteriormente, conseguem publicidade que os remunera economicamente. Isto acarreta uma responsabilidade civil sobre aquilo que apresentam. Ao ensinar algo, sem apresentar os riscos e cuidados inerentes a atividade, expõem o consumidor de informação dentro de uma situação de vulnerabilidade ao executar as instruções.

 

Existe, no entanto, algo mais perverso derivado do desejo de manter ou aumentar seguidores e, portanto, patrocínio. Ensinar aquilo que não sabe, não domina ou não conhece a eficácia. Vou continuar sem poupar os leitores e vou indicar um episódio de podcast que explora esse problema nos Estados Unidos relativo a Saúde Bucal. Trata-se do Podcast Canaltech, episódio intitulado “Nova trend de risco do TiTok é sobre ajustar os dentes em casa” de 30 de dezembro de 2022. Como ainda não deixamos de ser quintal das tendências americanas e europeias, talvez já tenhamos muitas traduções de tais tipos de “faça você mesmo”.

 

O direito do consumidor deve evoluir para cobrir também essas relações de consumo que envolvam produtor de conteúdo, consumidor de conteúdo e o patrocinador de influenciadores digitais. Da mesma maneira que os atuais manuais de equipamentos estão plenos de advertências e alertas, também será necessário fazer o mesmo para tais vídeos que ensinam qualquer atividade que envolva risco mínimo aos seguidores. Contudo, apenas a legislação não dará conta de resolver esses potenciais problemas, parte ficará por conta da educação e parte ficará por conta da melhoria da situação econômica da população, que atualmente não tem alternativas para adquirir um bem ou serviço especializado e opta pelo vale tudo do “faça você mesmo”.

 

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