Uni, duni, tê: qual protetor solar escolher? (V.6, N.1 P.3, 2023)
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Ei, psiu? Isso! Você mesmo(a) que está lendo este texto agora. Você tem o hábito de usar protetor solar todos os dias? Você se preocupa com o FPS do produto? Você olha a validade antes de usar? Se você respondeu “NÃO” para pelo menos uma destas perguntas, te convidamos para ler esse texto até o fim. Vai ser rápido e útil!
O uso de protetor solar é importante para diminuir os efeitos negativos causados pela radiação ultravioleta (UV) e a possibilidade de desenvolver câncer de pele. Muitas vezes as pessoas só se lembram de usar protetor solar na praia ou piscina, mas você sabia que a luz ambiente também pode queimar a nossa pele e favorecer o aparecimento de câncer de pele? Pois é! Este é o tipo de câncer mais comum no Brasil, superando até mesmo o câncer de mama, próstata e pulmão1.
Além de utilizar o protetor solar é importante ficar atento(a) e escolher o fator de proteção solar (conhecido pela sigla FPS) mais adequado para o seu tom de pele e tempo de exposição à radiação UV. Vale lembrar que usar um protetor solar com FPS 15 e depois aplicar outro protetor com FPS 30, não tem efeito somatório (“FPS 45”). Caso você faça isso, a sua pele estará protegida pelo produto com FPS 30 que tem efeito de duração 30 vezes maior em relação à proteção natural de uma pele desprotegida2.
Com a correria do dia a dia e a falta de hábito de utilizar produtos com fotoproteção mesmo dentro de casa, muitas vezes esses produtos perdem a validade. E agora? Você usa assim mesmo? Sabemos que a recomendação dos médicos dermatologistas é não usar produtos vencidos, pois além de perderem eficiência de proteção e com o tempo, esse tipo de cosmético pode oxidar e contaminar, mesmo dentro da embalagem.
Diante destas dúvidas, fizemos um estudo para avaliar o FPS indicado nos rótulos das embalagens de protetores solares; comparar o FSP de produtos dentro e fora da validade; e se o prazo de validade de protetores solares com diferentes FPS pode alterar a capacidade de proteção contra a radiação solar.
Primeiro fizemos um estudo avaliando 5 amostras de protetores solar no prazo de validade de diferentes marcas e FPS, a saber: 1) Marca A FPS 08; 2) Marca B FPS 15; 3) Marca C FPS 30; 4) Marca D FPS 50 e 5) Marca E FPS 60. Olhando a figura 1 que mostra a avaliação do FPS pela técnica de espectrometria, vemos que os produtos A e B apresentaram FPS superior ao informado pelo fabricante. Já as amostras C, D e E apresentaram FPS menor do que o que estava descrito no rótulo da embalagem.
É possível que pelo fato das marcas A e B serem produtos com coloração mais escuras tenha aumentado a absorbância na análise pela técnica de epectrofotometria. O motivo da amostra D ter apresentado valor muito discrepante daquele identificado na embalagem pode estar relacionado ao tipo de proteção do produto. O protetor solar da marca D apresenta uma tecnologia que filtra os raios solares a partir de uma barreira física, enquanto o equipamento que utilizamos para avaliar os produtos (espectrofotômetro) analisa somente o aspecto químico3. Por outro lado, o protetor da marca E apresentou um FPS próximo de 30. Isso pode ter acontecido por uma questão de limitação da técnica, uma vez que o espectrofotômetro analisa somente a parte química, isto é, o máximo de FPS que pode ser obtido neste tipo de análise é por volta de 30.
Em um outro estudo foi avaliado se existe diferença no FPS de produtos fotoprotetores dentro e fora da validade. Foram avaliadas 10 amostras de protetor solar disponíveis no mercado, alguns dentro do prazo de validade e outros com a validade expirada: 1) Marca A, FPS 08; 2) Marca B FPS 15; 3) Marca C, FPS 30; 4) Marca D, FPS 50 5) Marca E, FPS 60; 6) Marca F, FPS 15, vencido em 2020; 7) Marca G, FPS 30, vencido em 2021; 8) Marca H, FPS 30, vencido em 2019; 9) Marca I, FPS 30, vencido em 2014; e 10) Marca J, FPS 60, vencido em 2017. Os resultados mostraram que a maioria dos protetores solares vencidos apresentaram valores de FPS maiores (Figura2), quando comparado com as amostras de protetores solares dentro do prazo de validade (exceção: amostra J).
Possivelmente esse resultado tem relação com a presença de álcool na formulação dos produtos, exceto a amostra J. O álcool pode ter evaporado ao longo do tempo após o produto ter sido aberto. A evaporação do álcool pode alterar a concentração dos componentes presentes nos protetores, que tendem a reter mais a luz. Esta alteração pode ter aumentado a absorbância da solução feita com o protetor solar.
Por fim foi realizada uma avaliação de pele de suíno recoberta com uma camada de protetor solar. Na figura 3 é possível notar que a pele que recebeu uma amostra de protetor solar dentro da validade ficou menos vermelha, indicando menos agressão da radiação UV. Os protetores dentro do prazo de validade preservaram a aparência da pele mais próxima do momento inicial (sem exposição aos raios UV) do que os protetores com o mesmo FPS, mas fora do prazo de validade.
Este trabalho mostrou que os protetores solares fora da validade até podem apresentar maior valor de FPS, mas na prática, a capacidade de proteção de produtos vencidos é menor do que aqueles dentro do prazo de validade recomendado pelo fabricante.
Referências
1Silva AC, Tommaselli JTG Corrêa MP. Estudo retrospectivo dos casos novos de câncer de pele diagnosticados na Região Oeste do estado de São Paulo, Brasil. Hygeia. 2008; 4(7): 1-14.
2INBAR, Mariana. Protetor Solar: podemos somar FPS para uma maior proteção? Disponível em: <https://www.sallve.com.br/blogs/sallve/fps-de-produtos-pode-somar>.
3BAUMANN, Leslie. Protetores Solares. In: BAUMANN, Leslie, FUTURO, Douglas Arthur Omena (Trad.). Dermatologia Cosmética – Princípios e Prática: Rio de Janeiro: Revinter, 2004.
Ótimo conteúdo