Micos-leões da Mata Atlântica e os programas de conservação (V.5, N.7 P.8, 2022)

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Divulgadora da ciência: Juliana Bertoli, discente da UFABC

 

Imagino que você já deve ter ouvido falar sobre algum projeto de conservação da biodiversidade, talvez sobre aquele das tartarugas, ou o da ararinha-azul, ou quem sabe aquele do mico leão dourado. Falando sobre esse último, sabia que existem mais três espécies diferentes de micos que também estão ameaçadas? São elas, o mico-leão-da–cara-dourada (L. chrysomelas), o mico-leão-da-cara-preta (L. caissara), e o mico-leão-preto (L. chrysopygus, considerado extinto até 1970). Felizmente, existem projetos de conservação para essas espécies e vamos conhecer dois deles. 

 

O primeiro – talvez seja o mais conhecido – pertence à Associação mico-leão-dourado. Foi criado em 1996, no Rio de Janeiro e atua na conservação da biodiversidade da Mata Atlântica com ênfase na proteção do Mico-Leão-Dourado (L. rosalia) em seu habitat natural. 

#PraTodosVerem: A imagem apresenta à esquerda uma fotografia colorida de um mico-leão-dourado. Abaixo aparece seu nome científico “Leontopithecus rosalia”. E à direita, os dizeres “Mico-leão-dourado”, “Grupo: 6 indivíduos em média”, “Ameaças: fragmentação e redução de habitat, incêndios, competição com espécie exótica”.

#PraTodosVerem: A imagem apresenta à esquerda uma fotografia colorida de um mico-leão-dourado. Abaixo aparece seu nome científico “Leontopithecus rosalia”. E à direita, os dizeres “Mico-leão-dourado”, “Grupo: 6 indivíduos em média”, “Ameaças: fragmentação e redução de habitat, incêndios, competição com espécie exótica”.

 

Sua área de atividade é a Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São João, que inclui o entorno de duas Unidades de Conservação: a Reserva Biológica Poço das Antas e a Reserva Biológica União. 

 

Segundo a associação, a meta para 2025 era atingir uma população mínima viável de 2 mil micos-leões-dourados vivendo livremente em 25 mil hectares de florestas protegidas. E olha que sucesso, a meta foi batida! Legal? Sim, porém não muito… 

Apesar da meta ter sido atingida, o problema é a conexão entre essas florestas, os micos continuam vivendo em fragmentos isolados, não ocorrendo troca genética entre eles. Para ter a variabilidade genética dos grupos, é necessário a implantação de corredores florestais para conectar esses fragmentos remanescentes de Mata Atlântica existentes na região. Até o momento, a maior área contínua de floresta possui 20 mil hectares e abriga uma população de aproximadamente 1.100 micos. 

 

Se você acha que a vacinação é um tema que gera discussão – principalmente agora na pandemia para nós humanos -, você não viu como foi para esses micos em 2017. Neste ano, por causa da febre amarela, a população desses primatas reduziu em mais de 30%, lembrando que já era uma população ameaçada de extinção. 

Para muitos cientistas, interferir na vida de animais silvestres desta maneira é um tema relativamente polêmico, porque isso implica em interferir nos ciclos naturais de vírus e parasitas que acontecem naturalmente na natureza. Entretanto, houve consenso que devido ao risco de extinção, a imunização de uma população mínima desses primatas iria garantir a segurança de se ter um número suficiente de micos para recomeçar a conservação da espécie caso acontecesse novamente um surto de febre amarela. 

 

O segundo projeto, mas não menos importante, é o Programa de Conservação do Mico-leão-preto. A iniciativa começou em 1984 e foi a causa para a criação do IPE (Instituto de Pesquisas Ecológicas). O programa possibilitou a mudança de categoria e ameaça da espécie, de criticamente ameaçado para ameaçado, além da criação de uma Unidade de Conservação. 

#PraTodosVerem: A imagem apresenta à esquerda uma fotografia de um mico-leão-preto. Abaixo, seu nome científico “Leontopithecus chrysopygus”. E à direita, os dizeres “mico-leão-preto”, “Grupo: 2 a 11 indivíduos”, “Ameaças: fragmentação de habitat e o isolamento de populações, desmatamento e expansão do agronegócio”

#PraTodosVerem: A imagem apresenta à esquerda uma fotografia de um mico-leão-preto. Abaixo, seu nome científico “Leontopithecus chrysopygus”. E à direita, os dizeres “mico-leão-preto”, “Grupo: 2 a 11 indivíduos”, “Ameaças: fragmentação de habitat e o isolamento de populações, desmatamento e expansão do agronegócio”

 

O projeto usa a espécie desse mico como um símbolo para a conservação de áreas florestais prioritárias, envolvendo todo o ecossistema em que eles ocorrem, assim como acontece com os seus parentes fluminenses, os micos dourados.

 

Como a maior ameaça à conservação desses animais é a degradação do seu habitat e a fragmentação das florestas, devido a expansão do agronegócio – pois é! o Agro é tech, agro é pop, agro é tudo… só que não! -. Esta expansão implica no isolamento e declínio das populações restantes desses micos, por isso, uma das finalidades da iniciativa é recuperar áreas degradadas e/ou criar corredores que conectem os fragmentos de matas onde as famílias destes animais se encontram isoladas. 

Os planos do projeto estão associados à educação ambiental, tendo como objetivo transmitir conhecimentos científicos de maneira acessível e que com isso sensibilize o público para a importância da conservação desses micos. Além disso, explora alternativas de desenvolvimento sustentável que possam valorizar a natureza local e gerar renda para as comunidades locais e de modo a conquistar aliados para a conservação dos locais.

 

Referências bibliográficas 

ASSOCIAÇÃO MICO-LEÃO-DOURADO (Brasil) (org.). Planejamento Estratégico. Disponível em: https://micoleao.org.br/planejamento-estrategico/. Acesso em: 07 abr. 2022. 

BRAGANÇA, Daniele; MENEGASSI, Duda (ed.). Quatro micos e um bioma: a luta pela conservação dos micos-leões da Mata Atlântica. 2022. Disponível em: 

https://oeco.org.br/reportagens/quatro-micos-e-um-bioma-a-luta-pela-conservacao-d os-micos-leoes-da-mata-atlantica/. Acesso em: 07 abr. 2022 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). (ed.). Indicadores Brasileiros para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 2022. Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/. Acesso em: 07 abr. 2022. 

ICMBIO. Sumário Executivo do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. 2016. 

INSTITUTO DE PESQUISAS ECOLÓGICAS (IPE). (ed.). Conservação do Mico-Leão-Preto. Disponível em: https://www.ipe.org.br/projetos/pontal-do-paranapanema/77-conservacao-do-mico-le ao-preto. Acesso em: 07 abr. 2022. 

REZENDE, Gabriela Cabral. Sucesso em Programas de Conservação de Espécies da Fauna Ameaçada: A história do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto. Curso de Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, Instituto de Pesquisas Ecológicas, Nazaré Paulista, 2013. 

ROMA, Júlio César. Os objetivos de desenvolvimento do milênio e sua transição para os objetivos de desenvolvimento sustentável. Ciência e cultura, v. 71, n. 1, p. 33-39, 2019.

 

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