Por que higienizar as mãos? (V.4, N.12, P.3, 2021)

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Divulgadores da Ciência:

Davi Alves Fernandes: estudante, aluno da Universidade Federal do ABC Paulista – Campus Santo André, Téc. em Manutenção Eletromecânica Ferroviária pelo IFES Campus Cariacica. Participou do Projeto de pesquisa VRLab pelo IFES Cariacica em parceria com a empresa Vale S. A.. Foi monitor de Eletrônica pelo IFES. [Lattes]

Pireto Hessel: cursando Licenciatura em Ciências Naturais e Exatas pela Universidade Federal do ABC (Santo André) (2020). Formação em Curso Técnico de Química pela ETEC Lauro Gomes (São Bernardo do Campo) (2019). Inglês nível CEFR-B1: Certificação Cambridge (2017). [Lattes]

Luciana Aparecida Palharini: Professora Adjunta do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC e colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da UFABC (PCHS-UFABC). Tem graduação em Ciências Biológicas pela UNESP (2000), Mestrado em Educação pela UNICAMP (2005), Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática pela UNICAMP (2015), além de ter pós-graduação Lato sensu em Jornalismo Científico também pela UNICAMP (2010).  [Lattes]

Paulo de Avila Junior: Professor associado no Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCNH) da Universidade Federal do ABC (UFABC). Doutor em Ciências, área Bioquímica, com ênfase em educação científica, pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), sob orientação do Prof. Dr. Bayardo B. Torres. Licenciado e Bacharel em Química também pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo. [Lattes]

Você sabia que no meio ambiente e em nosso corpo existem inúmeros microrganismos que não conseguimos ver a olho nu, mas podemos visualizá-los com o uso de um microscópio? Um exemplo é o protozoário do gênero Giardia, parasita que pode ser encontrado no trato intestinal de diversos animais e provocar infecções severas, com diarréia crônica e má absorção intestinal, inclusive nos seres humanos. A contaminação com esse parasita pode ocorrer de diversas formas, por exemplo, através da ingestão de alimentos ou água contaminados, falta de saneamento básico, assim como através do contato com fezes contaminadas de animais domésticos. Na figura 1 é apresentado o ciclo de vida da Giardia no corpo humano. E, na figura 2, são apresentados outros dois exemplos de microrganismos, bactéria e vírus. Com isso, podemos ter contato com microorganismos sem perceber e, lavar as mãos, se torna fundamental para evitar infecções.

Figura 1: Ciclo de vida do protozoário Giardia lamblia no corpo humano (BATAIERO, 2016).

Figura 2: Bactérias do tipo Escheria coli, encontradas frequentemente no intestino de animais endotérmicos (acima); coronavírus, vírus da Covid-19 (abaixo).

 

Em tempos de pandemia, a preocupação em lavar as mãos aumentou e se tornou urgente! Pense na sua rotina e responda: em quantos objetos você toca ao longo do dia? Um corrimão num ônibus ou um teclado de computador poderiam ter micro-organismos em sua superfície?

 

Pois é, podemos transportar diferentes microrganismos em nossas mãos, sejam eles causadores de doenças ou não, e, com isso, deve-se evitar coçar os olhos, nariz e boca ou comer algum alimento sem antes lavar as mãos, mesmo que visualmente não estejam sujas. Nesse sentido, é reforçada a importância lavá-las a cada vez que chegar da rua e após usar o banheiro.

 

Você sabia que, no passado, era comum em maternidades europeias as mulheres apresentarem febre após o parto em decorrência de infecção causada pela má higienização das mãos dos médicos?

 

No século XIX, muitas mulheres morreram em hospitais na Europa pela chamada “febre puerperal”, consequência de uma infecção adquirida durante o parto. Um médico obstetra húngaro, Ignaz P. Semmelweis (figura 3), ao identificar semelhanças entre as vítimas de febre puerperal e a autópsia de um colega médico falecido em decorrência de um ferimento por bisturi durante a realização de uma dissecação, induziu a relação entre a febre e a limpeza das mãos dos médicos, contaminadas por dissecações recentes.

 

Figura 3: Ignaz P. Semmelweis (Foto: Jenő Doby); “Carta Aberta a todos os Professores de Obstetrícia”, de 1862.

A hipótese de Semmelweis foi que os médicos e seus alunos não higienizavam as mãos adequadamente entre um procedimento e outro, e isso fazia com que “matéria orgânica animal em decomposição” fosse transferida dos cadáveres para as puérperas. Tal hipótese foi fortalecida pela observação de maior número de mortes quando médicos que realizavam autópsias atendiam partos, o que não acontecia em relação aos partos realizados pelas enfermeiras parteiras, que não participavam das autópsias.

 

Com isso, Semmelweis determinou que os profissionais daquela maternidade deveriam higienizar as mãos com uma solução de cal clorada antes de qualquer exame. Disso, resultou uma queda na taxa de mortalidade de 12% para 3% ao fim do primeiro ano. Entretanto, as ideias de Semmelweis não foram muito bem aceitas pelos médicos da época.

 

Nos dias de hoje, a comunidade científica e profissionais da medicina possuem plena consciência do impacto de higienizar adequadamente as mãos, antes e após a realização de cirurgias ou de examinar pacientes.

 

Embora a identificação de bactérias como agentes causadores da febre puerperal tenha ocorrido tempos depois, o entendimento desse microrganismo demandou décadas de estudos. Pasteur, Koch e Lister contribuíram muito para o desenvolvimento da “teoria microbiana”, esclarecendo que a “matéria orgânica animal em decomposição” era, na verdade, microrganismos presentes nos cadáveres. Esses estudos deram início aos conhecimentos científicos que temos, hoje, sobre a existência de diferentes microorganismos. Além disso, por meio do desenvolvimento científico e tecnológico, foram identificados cada vez mais microrganismos, assim como desenvolvidos produtos cada vez mais eficazes para a higiene.

 

Hoje em dia, as pessoas possuem muito mais consciência sobre a importância e o quê utilizar para higienizar as mãos e essa preocupação aumentou ainda mais durante a pandemia, de modo que passamos a utilizar com frequência o álcool etílico em gel, sabão ou sabonete. Portanto, lave as mãos!

 

Referências

 

BATAIERO, M. O. Ocorrência e caracterização de Giardia e Cryptosporidium em águas captadas para abastecimento público no município de Cajamar-SP e avaliação de risco. [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 2016. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-09062016-135017/publico/TeseMOB.pdf (acesso em 26/10/21).

 

BOECHAT, J.; GOMES, H. Ignaz Semmelweis: as lições que a história da lavagem das mãos ensina, 13/04/20. Notícias. Portal FIOCRUZ. Disponível em: http://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771-ignaz-semmelweis-as-licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html (acesso em 26/10/21).

 

OLIVEIRA, M.B.; FERNANDEZ, B.P.M. Hempel, Semmelweis e a verdadeira tragédia da febre puerperal. Scientiæ Studia, São Paulo, v.5, n.1, p.49-79, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ss/a/95CzyFRctyt6BR5VxGrYWwj/abstract/?format=html&lang=pt&stop=next (acesso em 26/10/21).

 

Fontes das imagens:

 

Figura 1: Ciclo de vida do protozoário Giardia lamblia no corpo humano .https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-09062016-135017/publico/TeseMOB.pdf adaptado de Centers for Disease Control and Prevention (https://www.cdc.gov/parasites/giardia/pathogen.html)

 

Figura 2: Imagem de Escherichia coli – https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/proteina-usada-pela-bacteria-e-coli-consegue-driblar-o-sistema-imune/; Imagem do coronavírus – https://jornal.usp.br/atualidades/coronavirus- chega-ao-brasil-e-agora/ Foto: CDC / Dr. Fred Murphy / Phil via Wikimedia Commons / Domínio público.

 

Figura 3: Ignaz Semmeweils – http://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771-ignaz-semmelweis-as-licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html

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