Extratos de plantas e potencial antiviral (V.3, N.10, P.12, 2020)

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A crescente importância de medicamentos fitoterápicos na prevenção e no tratamento de diversas doenças direciona estudos científicos em diferentes áreas, como a bioquímica, farmacologia, biomedicina e citologia, entre outras. Os fitoterápicos podem estar disponíveis como chás, óleos essenciais, tinturas, cremes, pomadas, drágeas e comprimidos e ser utilizados para várias finalidades, incluindo reações inflamatórias, infecção por micro-organismos e vírus, além de regeneração tecidual. Devido à vasta aplicação e ao potencial econômico dos fitoterápicos, a busca por compostos bioativos vem tendo destaque na pesquisa científica, sendo o Brasil um polo importante para estes estudos, em virtude da grande diversidade de sua flora (Hasenclever et al., 2017). 

 

Extratos vegetais podem ser obtidos a partir de diferentes partes das plantas: frutos, folhas, raízes, botões florais, flores

 

Muitos medicamentos de alto valor ainda são sintetizados utilizando-se substâncias de origem vegetal, como o Buscopan®, que é obtido modificando-se a estrutura da escopolamina, um alcalóide comum em espécies de Solanaceae (de Souza et al., 2019). Dentre os diversos grupos de plantas nativas do Brasil com potencial terapêutico comprovado destacam-se alguns gêneros, como das famílias Verbenaceae, Lippia e Lantana (Marcial et al., 2016; Verma, 2018), Lamiaceae, Salvia e Vitex (Michel et al., 2020). 

 

O Brasil e outros países neotropicais desfrutam de grande potencialidade para o desenvolvimento de fármacos ou outros produtos industriais derivados de recursos naturais (da Silva Bolzani et al., 2012). Por outro lado, toda esta potencialidade é pouco explorada, e apesar de sua grande biodiversidade, os países sul-mericanos, incluindo o Brasil, não têm conseguido desenvolver muitos produtos oriundos de sua flora (Desmarchelier, 2010).

 

Fases do preparo de extratos vegetais brutos a partir de folhas

 

O surgimento da síndrome respiratória aguda causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) trouxe a necessidade de se encontrar drogas antivirais efetivas para o controle da doença, que rapidamente se tornou uma pandemia  (Prasad et al., 2020). Diversas drogas com usos variados, bem como novas moléculas têm sido testadas para este fim. Terapias baseadas em fitoterápicos têm obtido sucesso ampliando a imunidade e trazendo tolerância às infecções virais, como as soluções a base de extratos de raízes de Betula luminifera H.J.P.Winkl. e Ulmus pumila L. para o tratamento da hidrofobia (Ganjhu et al., 2015), e o uso de extratos de Artemisia annua L. no tratamento da SARS (Buhner, 2013).

 

Para o SARS-CoV-2 (Covid-19) estudos recentes demonstraram que nas regiões sul da Itália, onde a população tradicionalmente faz uso de infusões fitoterápicas antivirais, como o chá de louro (Laurus nobilis L.), a mortalidade foi consideravelmente inferior à observada no norte, sendo este um dos prováveis fatores de proteção, somado à menor densidade demográfica e ao meio ambiente mais preservado (Roviello e Roviello, 2020). Outros estudos também buscam a ação de fitoterápicos como antivirais ou adjuvantes no tratamento da Covid-19 (Maideen, 2020).

 

Espécies nativas brasileiras de diversas famílias podem contribuir para o tratamento de doenças virais, como a Covid-19, e serão analisadas na presente investigação, sendo que algumas já têm estudos em desenvolvimento pelo grupo na UFABC, e para outras as análises se iniciarão agora, incluindo espécies das famílias Lythraceae, Apocynaceae, Salicaceae, Verbenaceae e Lamiaceae.

 

Potencial de ação antiviral de extratos vegetais

 

Desta forma, o projeto a ser desenvolvido na UFABC, em parceria com outras instituições, se propõe a ampliar os conhecimentos do efeito biológico de cinco espécies vegetais nativas com potencial anti-inflamatório e antiviral, para futura proposição de aplicação clínica das mesmas no tratamento de doenças infecciosas, incluindo a Covid-19. Será realizada a determinação fitoquímica destes extratos, avaliação de citotoxicidade e do potencial de ação antimicrobiana e antiviral. Desta forma os objetivos deste projeto estão alinhados com a situação atual da pandemia de Covid-19, com a prospecção de agentes antivirais a partir de exemplares ainda pouco estudados da flora nativa do Brasil.

 

Como resultado, pretende-se ampliar o conhecimento e a utilização de espécies da flora brasileira para uso fitoterápico antimicrobiano e antiviral utilizando testes in vitro, mais rápidos, de menor custo e menos controversos eticamente em relação a modelos animais. A partir dos resultados obtidos poderá ser proposto o uso clínico, em concentração segura, dos extratos de plantas, e assim contribuir com a cadeia produtiva de ervas com potencial medicinal, representada principalmente por agricultores de pequenas propriedades, e com a indústria farmacêutica baseada em compostos naturais, fornecendo novas opções de tratamento para patologias virais que afetam o trato respiratório, incluindo a Covid-19. 

 

Os proponentes deste projeto são professores e alunos da UFABC, listados a seguir:

 

Coordenadora: Profa Christiane Bertachini Lombello (CECS/UFABC) [Lattes]

 

Coordenador Adjunto: Prof Ricardo Augusto Lombello (CCNH/UFABC)[Lattes]

 

Colaboradores: 

Profa Daniele Ribeiro de Araujo (CCNH/UFABC)[Lattes]

Profa Fernanda Dias da Silva (CCNH/UFABC)[Lattes]

Profa Helena Beatriz de Carvalho Ruthner (Instituto Pasteur/UFABC)[Lattes]

Prof João Henrique Ghilardi Lago (CCNH/UFABC)[Lattes]

 

Alunos:

Juliana Toledo Faria (Mestranda, Curso de Engenharia Biomédica/UFABC)

Vitoria Cauzzo (Aluna de Iniciação Científica/UFABC)

Felipe Nogueira Ambrosio (Doutorando, Biotecnociência/UFBAC)

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Buhner S.H. (2013). Herbal antivirals: natural remedies for emerging & resistant viral infections. Storey Publishing.

da Silva Bolzani V., Valli M., Pivatto M. et al. (2012). Natural products from Brazilian biodiversity as a source of new models for medicinal chemistry. Pure Applied Chem, v.84, n.9, p:1837-1846.

Desmarchelier C. 2010. Neotropics and natural ingredients for pharmaceuticals: why isn’t South American biodiversity on the crest of the wave? Phytother Res, v.24,p:791-799.

de Souza, G. L. S., Portela, C. R.,  Marques, D. D. (2019). O uso da espécie Brugmansia suaveolens (Solanaceae) como ornamental e na medicina popular. Scient Natur, v1, n.1, p:171-180.

Ganjhu, R. K., Mudgal, P. P., Maity, H., et al. (2015). Herbal plants and plant preparations as remedial approach for viral diseases. Virusdisease, v.26, n.4, p: 225-236.

Hasenclever L., Paranhos J., Costa Cr., Cunha G., Vieira D. (2017) A indústria de fitoterápicos brasileira: desafios e oportunidades. Ciênc saúde coletiva  [Internet], v.22, n. 8, p:2559-2569. 

Maideen NMP. (2020) Prophetic Medicine-Nigella Sativa (Black cumin seeds) – Potential herb for COVID-19? J Pharmacopuncture, v.23, n.2, p:62-70. 

Marcial G., de Lampasona M. P., Vega M. I., et al. (2016). Intraspecific variation in essential oil composition of the medicinal plant Lippia integrifolia (Verbenaceae). Evidence for five chemotypes. Phytochemistry, v122, p:203-212.

Michel J., Abd Rani N. Z., Husain, K. (2020). A review on the potential use of medicinal plants from Asteraceae and Lamiaceae plant family in cardiovascular diseases. Front Pharmacol, v.11, P:852.

Prasad, A., Muthamilarasan, M., Prasad, M. (2020). Synergistic antiviral effects against SARS-CoV-2 by plant-based molecules. Plant Cell Reports, v.39, n.9, p:1109-1114.

Roviello V., Roviello G.N. (2020). Lower COVID-19 mortality in Italian forested areas suggests immunoprotection by Mediterranean plants. Environm Chem Letters, p:1-12.

Verma, S. (2018). Medicinal potential of Lantana camara: Verbenaceae. Journal of Drug Delivery and Therapeutics, v.8, n.4, p:62-64.

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