2025V.8 N.11

The Last of Food: O que um Hambúrguer revela sobre conservantes e o fim do mundo? (V.8, N.11, P.02, 2025)

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Divulgadoras e divulgadores da Ciência: Antonio José da Costa Neto, Gustavo Oliveira Lopes, Manuela Santos dos Anjos, Matheus Ventura Pierini, Pedro Henrique de Brito Cordeiro.
Coordenação e orientação: Profa Dra. Michelle Sato Frigo e Técnico Laboratorial Willians Zaguini.

Na série The Last of Us, um fungo transforma humanos em criaturas irreconhecíveis,
levando o mundo ao colapso. A premissa é ficcional e extrema, mas se apoia em algo
muito real: a capacidade de fungos e bactérias de colonizar qualquer ambiente com
os nutrientes certos. Inclusive, os alimentos que colocamos na mesa todos os dias.
Mas, o que aconteceria se deixássemos um hambúrguer se decompor por semanas?
Será que ele apodreceria como qualquer comida natural, ou resistiria como uma
cápsula do tempo, graças aos conservantes?
Essa foi a pergunta que nos guiou. Inspirados pela curiosidade sobre alimentos
ultraprocessados, conduzimos um experimento simples, mas impactante:
comparamos a decomposição de dois tipos de hambúrguer—um caseiro, feito com
ingredientes naturais, e outro industrializado, comprado em uma rede de fast-food.


O que descobrimos?
A Jornada de Duas Semanas no Laboratório

Durante duas semanas, observamos como esses

alimentos se comportavam diante
da ação de microrganismos.
Para isso, usamos técnicas
microbiológicas em laboratório:

  • Coletamos amostras da
    superfície dos hambúrgueres.
  • Cultivamos as amostras em
    placas com um meio de cultura
    (como ágar com Luria Broth e
    glicose), um “alimento” perfeito

para bactérias e fungos se desenvolverem.

  • Dividimos as amostras em dois grupos: um mantido em condições
    controladas de laboratório e outro exposto a condições domésticas (sem
    controle de temperatura) para simular o ambiente de uma rotina comum.
  • Ambas foram monitoradas semanalmente.

O Duelo: Conservantes versus Microrganismos
Semana 1: A Vitórias dos Aditivos

  • Na primeira semana, o hambúrguer caseiro mostrou sinais claros de
    decomposição: surgiram colônias de bactérias com crescimento acelerado e
    visível a olho nu.
  • Já o hambúrguer de fast-food permaneceu visualmente estável e apresentou
    um crescimento bacteriano muito menor. Ou seja, os conservantes
    funcionaram, retardando significativamente o avanço microbiano.

Semana 2: A Natureza Vence

  • Na segunda semana, a situação mudou. Ambas as amostras apresentaram crescimento de fungos, inclusive o industrializado.
  • O que isso nos diz? Que, com o tempo suficiente, nenhum alimento escapa
    da ação da natureza
    . Mesmo com conservantes, os microrganismos acabam
    vencendo. Tal como o fungo Cordyceps em The Last of Us, a vida microbiana
    é persistente e inevitável.

A Reflexão: O Preço da Durabilidade na Saúdde

Os conservantes são fundamentais para evitar contaminações e aumentar o tempo
de prateleira dos alimentos. Porém, seu uso em excesso nos alimentos
ultraprocessados levanta preocupações.

Estudos apontam que o consumo frequente desses produtos está relacionado a:

  • Distúrbios metabólicos;
  • Inflamações crônicas;
  • Desequilíbrios nutricionais.

Há ainda uma nova tendência na indústria de fast-food que pode ter influenciado nosso resultado: a pressão dos consumidores por produtos com menos químicos.
Isso pode explicar o aparecimento de fungos na amostra industrializada—talvez
esses hambúrgueres não sejam mais tão “indestrutíveis” quanto os de antigamente.

O Equilíbrio Necessário
Esse experimento, apesar de simples, revela muito sobre o nosso consumo.
Queremos alimentos práticos, duráveis e seguros, mas também mais saudáveis e
menos artificiais. A questão, portanto, é encontrar o equilíbrio.
A decomposição de um hambúrguer é uma lente poderosa para enxergar os impactos
do que comemos.
Conservantes não são vilões, mas também não são inocentes. O segredo pode estar
em aprender com a ciência (e até com a ficção) que o perigo está onde menos
esperamos: invisível, mas presente.

Quer Ver a Decomposição em Detalhes?
Assista ao vídeo no YouTube e veja todo o processo do experimento:
Link para o vídeo: https://youtu.be/K0oz9KaxpZs?si=G3hGN9EWV0LO2XW
Você já parou para pensar na quantidade de conservantes nos seus alimentos
favoritos? Compartilhe sua opinião nos comentários!

Este estudo foi elaborado no âmbito da disciplina de Base Experimental das Ciências Naturais pertencente ao curso de graduação de Bacharelado em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do ABC, sob responsabilidade da Profa. Dra. Michelle Sato Frigo e Técnico Laboratorial Willians Zaguini.

REFERÊNCIAS
ATLAS, Ronald M. Microbiologia: princípios e aplicações. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
RDC n° 12, de 2 de janeiro de 1999. Aprova o Regulamento Técnico sobre aditivos
alimentares. Diário Oficial da União, Brasília, 1999.
FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo:
Atheneu, 2008.
MONTEIRO, C. A. et al. NOVA. A classificação dos alimentos e suas implicações
para políticas públicas de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n.
3, p. 767-774, 2016.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia: princípios e aplicações.

  1. ed. São Paulo: Artmed, 2017.